A memória do País sofreu um duro golpe quando se constatou, há quatro meses, que diversas fotos do século XIX foram furtadas da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Segundo o primeiro levantamento, sumiram dos arquivos 150 fotos raras de artistas como Marc Ferrez, August Stahl e Guilherme Liebenau durante a greve empreendida por funcionários. Na ocasião, as câmeras de segurança estavam desativadas por falta de manutenção e não há sinal dos autores do roubo. Mas na segunda-feira 7, o Ministério da Cultura informou que a extensão dessa perda histórica é bem maior: a lista de imagens furtadas chega a 900 peças. É difícil estimar o valor monetário da perda desse verdadeiro tesouro. No conjunto das obras roubadas há peças que podem ser vendidas por R$ 5 mil e outras que são estimadas em até R$ 60 mil. O maior prejuízo é mesmo para a memória brasileira, já que as fotos são importantes documentos da história do País. “Isso é uma vergonha para o Brasil, várias dessas fotos foram consideradas patrimônio da humanidade pela Unesco”, lamenta Rutonio Sant’Anna, diretor da associação de funcionários da Biblioteca Nacional. “A gestão de Pedro Corrêa do Lago não investiu em segurança e foi incompetente nessa área”, diz. Corrêa do Lago – que era diretor da biblioteca até o mês passado – pediu demissão depois que ISTOÉ denunciou irregularidades na edição da revista Nossa História. Ele se defende. “O furto aconteceu durante a paralisação dos funcionários”, justifica-se Corrêa do Lago. “A direção da biblioteca sempre procurou ajudar nas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público”, afirma.

Sigílo – Segundo o ex-diretor da Biblioteca Nacional, a relação das imagens roubadas foi completada pelos funcionários somente em setembro e imediatamente encaminhada para o Ministério da Cultura. O processo que apura o furto corre em segredo de Justiça. “É importante que o sigilo seja quebrado para podermos divulgar a lista de imagens”, pede o procurador Carlos Alberto Aguiar, do Ministério Público Federal. “Assim fica mais fácil recuperar as peças”, explica ele. A Biblioteca Nacional tem em suas estantes um dos maiores acervos culturais do Brasil, já que recebe todas as publicações editadas no País desde o Império. O novo diretor indicado para a instituição é o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Muniz Sodré, que já anunciou investimento em segurança. “Já há uma licitação em curso para tratar dessa questão da segurança, ou seja, a compra de câmeras e a contratação de seguranças”, garantiu. Além disso, Sodré prometeu acabar com as goteiras e infiltrações, reveladas por ISTOÉ na reportagem “Improbidade Literária”, publicada na edição 1877, que prejudicam a conservação de obras raras.