Durante sua curta, porém atribulada passagem por São Paulo, Mike Tyson fez exatamente tudo o que se espera de um Mike Tyson. O ex-campeão mundial de boxe desembarcou na capital paulista após uma viagem a Buenos Aires, onde foi o convidado da última edição do La Noche del 10, programa apresentado por Maradona. Na volta, resolveu dar uma passadinha em Sampa. Aproveitou para provar pratos tão peso pesados quanto ele, como feijoada e churrasco, circular por renomados inferninhos paulistanos e, só para variar, usar sua descomunal força contra um de seus alvos favoritos: a imprensa. No Bahamas, afamada boate paulistana, o ex-pugilista agrediu o cinegrafista Carlos Melo, do SBT. Ele tentava filmar a fera ao lado das belas moçoilas da casa. O destempero o levou a um lugar quase tão freqüentado pelo ex-campeão quanto os ringues: a delegacia. Mas o incrível é que a mesma mão que espanca e sangra é capaz de produzir um singelo e belo ato de solidariedade.

Num de seus deslocamentos, a fera foi sensibilizada pela frágil figura da pequena Tamires Ramos, de apenas nove anos. Num cruzamento da zona sul, a menina, descalça e malvestida, pediu dinheiro ao ex-pugilista. Como não entendeu o que aquele imenso e mal-encarado tio dissera, Tamires já ia se afastando quando foi chamada pelo motorista do táxi, Sergio Castelione. Quando ela voltou, Tyson tinha nas mãos uma nota de US$ 20. Tamires saiu então em disparada para mostrar o presente à mãe, a desempregada Antônia Ramos, 36 anos. A senhora estava ali para cuidar da filha e de seus dois irmãos, que também pediam esmolas. Ingênua como qualquer criança, Tamires brincou. “Mãe, eu tenho dólar. Se arruma que amanhã nós vamos para os States.” Para ir aos States certamente os US$ 20 é muito pouco. Mas para a dura vida no Jardim Itatiaia, extrema periferia sul de São Paulo, onde a mãe e os cinco filhos residem num paupérrimo cômodo, trata-se de uma imensidão. Na manhã da quinta-feira 10, Antônia foi a uma agência do Banco do Brasil trocar a nota. Com os R$ 48 obtidos no câmbio comprou uma cesta básica. A partir de agora, Tyson ganhou uma incondicional fã, ainda que até então nunca tenha ouvido falar dele. “Ele tem um coração muito bom. Não tinha dinheiro nem para o arroz e o feijão. Que Deus o proteja”, diz Antônia. Essa pode ser a primeira de muitas famílias a serem beneficiadas por Tyson. Pela agressão ao cinegrafista, poderá ser condenado a doar dezenas de cestas básicas. Muitas outras Tamires, se pudessem, certamente diriam: “Obrigado, tio Tyson.”