Não é de hoje que as movimentações do ex-prefeito de Manaus e atual ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, despertam estranheza. Ele já foi apontado como um dos operadores do Mensalão e respondeu a 13 processos por fraude, como revelou ISTOÉ em reportagem de capa de março de 2007. Ali ele já era acusado de usar dinheiro público para cooptar deputados. No início desta semana, após o afastamento de quatro dos seus principais assessores no ministério, por denúncia de desvios e corrupção, ISTOÉ teve acesso a um vídeo que mostra Nascimento bem à vontade no papel de negociador de adesões de políticos para o seu partido em troca de liberações de projetos públicos. O vídeo, datado de 24 de junho de 2009, é revelador do modus operandi do ministro Nascimento, que, em pleno exercício do cargo, faz do próprio gabinete uma espécie de balcão de negócios para tratar de seus interesses. Titular da pasta por três vezes, Nascimento assumiu os Transportes no primeiro governo Lula, em 2003. Ausentou-se em 2006 para concorrer ao Senado e retornou ao posto logo após, em 2007. Voltou a deixar o ministério em 2010 para disputar – e perder – as eleições para governador de Estado do Amazonas. E mais uma vez foi reconduzido à pasta neste início do governo Dilma. As relações de dependência do majoritário PT com o PR de Alfredo Nascimento são antigas. O PR foi parceifiel e decisivo na primeira eleição presidencial de Lula. Agora, com 40 deputados e cinco senadores no Congresso, mantém sua relevância na base aliada e conseguiu segurar Nascimento na pasta, apesar da saraivada de acusações e suspeitas. Sobre a fita a que ISTOÉ teve acesso vale registrar que não se trata de um vídeo clandestino. O ministro Nascimento sabia da presença da equipe de gravação na ocasião, que ali estava para registrar o encontro dele com o deputado Davi Júnior, então do PDT, que dois meses depois da audiência assinou a filiação ao PR. O ministro Nascimento não contava, porém, com a gravação do áudio durante a visita, uma vez que havia sido combinado entre os presentes apenas o registro das imagens para uso do deputado Davi em seus programas de televisão no Maranhão. O áudio das filmagens ficou, acidentalmente ou não, ligado e registrou a conversa comprometedora, à revelia dos interlocutores. A situação lembra episódio semelhante, de 1994, conhecido como o “Escândalo da Parabólica”, envolvendo o então ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, que foi demitido. Nascimento pode até ter melhor sorte, mas as suspeitas de práticas de favorecimento durante a sua gestão não param de crescer.