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OLHA O BACALHAU!
A estátua do apresentador Chacrinha está no Jardim Botânico

A cidade que tem como símbolo a estátua do Cristo Redentor vive, agora, a polêmica do excesso de monumentos que brotam no espaço urbano. No Rio de Janeiro, figuras em bronze proliferam pela orla, ruas, praças e parques. Tudo começou com o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), cuja figura em bronze está sentada em um banco da praia de Copacabana, desde 2002. Ele virou ponto turístico de sucesso e outras homenagens surgiram no rastro. A questão é o exagero. A prefeitura não fornece o número, mas os escultores que atendem a esse tipo de encomenda formam um portfólio de quase 50 obras espalhadas pela cidade. Uma das mais recentes é a do apresentador Chacrinha (1917-1988) segurando uma peça de bacalhau, no Jardim Botânico, na zona sul.

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NA BEIRA DO MAR
O cantor Dorival Caymmi cumprimenta os passantes na orla de Copacabana

Segundo o artista plástico Daniel Senise, esse tipo de homenagem virou uma decisão arbitrária. “Deveria haver um colegiado para decidir quem homenagear e como”, critica. Arquitetos e urbanistas já se preocupam com a grande quantidade de estátuas amontoadas na cidade que, se somadas às históricas, da época em que o Rio de Janeiro foi capital do Império e da República, atingem o espantoso número de 780 – o que significa o maior acervo a céu aberto do Brasil.

“O excesso gera uma desvalorização. Ele vulgariza. É comprometedora a maneira como estão interferindo na paisagem urbana”, afirma o professor de arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Fernando Janot. Um fator a ser levado em conta é o reconhecimento da obra do homenageado. Flagrada perto da estátua do colunista social Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997), a professora gaúcha Anelise Milane, 46 anos, perguntou ao fotógrafo de ISTOÉ: “Quem foi? O que ele fez?”

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FAZENDO POSE
O colunista social Zózimo Barrozo do Amaral foi homenageado no Leblon

Sobrou até para o busto do presidente Getúlio Vargas (1883-1954), em uma praça da Glória, no centro, apelidado de “cabeção”. “Aquele monumento é horroroso. Simplesmente ninguém gosta”, afirma o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Rio, Carlos Fernando Andrade, que solicitou à prefeitura a retirada da obra por estar em área preservada. Segundo Andrade, a profusão de estátuas urbanas é uma especificidade do Rio e a culpa seria do sucesso da imagem em bronze do poeta Drummond, um verdadeiro point turístico na cidade. Sobrou para o poeta.