Eu tinha 12 anos. Alguém foi expulso da escola por fumar maconha. Maconha? Na minha casa essa palavra nunca tinha sido pronunciada. Mas o esclarecimento veio logo depois: minha professora de moral e cívica nos alertou sobre um caso de um garoto que fumou a tal coisa e engoliu um papagaio. Sim, isso mesmo, fumou maconha e engoliu um papagaio vivo. Essa imagem me apavorou. A vida toda tive medo de me meter com aquilo e engolir algum penoso. Mais tarde, li e reli a história de Christiane F., menina alemã que chafurdou nas drogas, fumou o baseado que o diabo enrolou, viciou-se em heroína e aos 13 anos se prostituía na estação Zoo em Berlim. Não satisfeita, assisti ao filme homônimo e fiquei ainda mais apavorada e com medo de acontecer o mesmo comigo, sem o glamour de Berlim, Niterói nem tem metrô. Nunca mais soube de minha amiga Christiane até o Google me contar que ela, ao contrário de sua companheira de loucura que morreu de overdose aos 14 anos, está viva, parou e voltou a se drogar uma dezena de vezes; ela, que na adolescência usou água da privada para dar mais um pico, milagrosamente, mantém seus lindos olhos azuis. Minha experiência com drogas é quase nula, não gosto da onda e minha grande aventura foi quando, totalmente desavisada, tomei um Chocomilk vitaminado com ácido dentro. Meus amigos resolveram fazer essa brincadeirinha comigo chefiados pelo meu namorado na época, que julgava que eu deveria “abrir minha cabeça”. Logo mudou de opinião depois que passei 12 horas falando sem parar e conversando loucuras com transeuntes desconhecidos. Definitivamente não tenho talento para “abrir minha cabeça”, meus porres são patéticos, com duas taças de vinho falo uma dúzia de besteiras, volto para casa e já estou curada.

Dito isso, sinto-me totalmente à vontade para apoiar a liberação das drogas. Não consigo enxergar a diferença entre maconha e cerveja, uísque e cocaína. Tudo isso é um problema imenso para os dependentes químicos e suas famílias. Tem gente que toma uma cervejinha e vai dormir na boa, tem gente que não consegue parar e destrói a vida por causa de uma bebida considerada leve que tem propaganda na televisão. Tem muito pai que enche a cara de vodca e fica desesperado porque o filho está fumando maconha. Não sei qual é a diferença. Visitei os cafés de Amsterdã, onde se pode fumar à vontade, claro que não gostei daquele fumacê, mas nada diferente dos bares do Baixo Gávea.

Pergunto-me qual profissão os traficantes escolheriam, caso acabassem com o tráfico. Dificilmente se tornariam exemplos de pais de família, mas será que não diminuiria a violência, começando pelas crianças seduzidas pela grana rápida do aviãozinho? As comunidades não teriam mais paz? A droga na mão do Estado não tiraria parte do poder dos bandidos? Por acaso as pessoas se drogam menos porque é proibido? Algum doidão tem medo de se arriscar porque pode ser preso? Entendo quem seja contra, é realmente um pouco assustador, mas não seria inteligente discutir um pouco mais sobre isso?

Drogas leves, pesadas, álcool, remédios e tudo que atrapalha a vida por adicção, por fim, é a mesma coisa. Problema de saúde pública. Taí Heleninha Roitman que não me deixa mentir.

Não acredito nas marchas contra a legalização, me parecem apenas uma demonstração de moral e cívica. Será que eles estão com medo da história do papagaio?