Há quem garanta que sim, há quem diga que não. Ninguém sabe ao certo se o general De Gaulle disse aquela famosa frase, mas, se não
o fez, poderia sussurrar agora do túmulo: “Le Brésil n’est pas un pays sérieux.” A prova está aí diante dos olhos, escancarada. Um banco público, capitalizado com recursos do Tesouro Nacional (“o meu, o seu, o nosso dinheiro”), entra numa operação de R$ 4 bilhões para promover uma quebra de contrato. Na prática, é como se o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, decidisse tornar todos os brasileiros seus cúmplices num crime societário.

Recapitulemos. Em 1999, a Companhia Brasileira de Distribuição, da família Diniz, buscava um sócio para capitalizar o Pão de Açúcar. Fechou um acordo com o grupo francês Casino que, em 2012, prevê a entrega do controle acionário da companhia. É do jogo. Abilio Diniz, empresário talentoso, vendeu sua companhia quando precisou de recursos. Agora, em plena saúde física e corporativa, parece estar arrependido. Bateu às portas de banqueiros tão audaciosos quanto desassombrados, do BTG Pactual, que arquitetaram a operação, e da mamãe BNDES, que, como sempre, colocará o dinheiro.

Argumenta-se que o capilé do banco servirá para manter 40 mil empregos do Carrefour – alvo da cobiça de Diniz, à revelia do seu sócio Casino. Mas quem disse que o Carrefour está indo embora do Brasil? E mesmo que saísse, venderia sua operação para algum outro grupo. O fato é que o economista Luciano Coutinho, no BNDES, tem sido o grande mestre de cerimônias da formação de oligopólios. Suas decisões, sempre embaladas com argumentos nacionalistas, atendem mais aos interesses financeiros (e nunca revelados) de acionistas privados do que ao chamado interesse nacional.

Sem nenhuma transparência, o BNDES já patrocinou o nascimento de uma “supertele” nacional que acabou vendida, em parte, a um grupo português, e também de um megafrigorífico global, que concentrou a atividade pecuária no Brasil. Não há nenhuma evidência de que a formação de mais um monopólio, desta vez no varejo, atenderá aos interesses dos trabalhadores, dos consumidores que fazem compras todas as semanas e das indústrias que hoje dispõem de poucos canais de distribuição para seus produtos.

Já passou da hora de abrir a caixa-preta do BNDES, que, com um dinheiro que é de todos, escolhe alguns poucos vencedores, sem prestar contas a ninguém. Definitivamente, isso não é capitalismo nem coisa de país sério.