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Na semana passada, a Europa levou um enorme susto com a Grécia à beira da moratória. De acordo com o FMI, a falta de uma solução para a crise poderia “contaminar a zona do euro, com graves efeitos para todo o mundo”. O vaticínio da instituição foi ainda mais longe: os problemas econômicos do país lançaram uma interrogação sobre o futuro do euro, a moeda oficial de 17 das 27 nações da União Europeia, criada há dez anos para garantir a estabilidade de preços no mercado comum. Sob pressão da Alemanha e da França, o Parlamento grego se viu obrigado a aprovar um dramático plano de contenção de gastos. Só assim a Grécia poderia sacar o empréstimo de 12 bilhões de euros e iniciar a negociação de um novo socorro. Do contrário, em poucas semanas, não escaparia do calote. Se o problema econômico foi temporariamente contornado, a situação social do país se tornou calamitosa. Milhares de gregos foram às ruas protestar contra o corte de 28 bilhões de euros em cinco anos, aumento de impostos, redução de 150 mil cargos públicos e mudanças nas regras de aposentadoria. Mas não havia alternativa ao remédio amargo. “Devemos evitar um colapso do País a todo custo”, disse o primeiro-ministro socialista George Papandreou. “A suspensão dos pagamentos da dívida acabaria com o sistema de saúde e de educação.”

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Depois da tumultuada votação da lei de austeridade fiscal, os parlamentares gregos fizeram o que o FMI exigia deles: sem dar ouvido ao clamor das ruas, aprovaram a regulamentação do pacote na quinta-feira 30. A firmeza do Parlamento grego agradou à União Europeia, que acredita que o país agora está no caminho da sustentabilidade financeira. “Em circunstâncias difíceis, é um ato de responsabilidade nacional”, elogiaram, em comunicado conjunto, os presidentes da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Eles garantiram que a Grécia terá recursos para resgatar títulos da dívida que vencem até 20 de agosto. Em contrapartida, a população grega vai pagar 2,3 bilhões de euros a mais de impostos em 2011 e 3,4 bilhões de euros a mais em 2012. Os cortes alcançam da Saúde à Defesa e diversas empresas públicas serão privatizadas. Com essas medidas, o governo pretende aliviar a monumental dívida de 340 bilhões de euros, que representa 150% do PIB.

 

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SUFOCO
O primeiro-ministro Papandreou diz que
o aperto econômico vai evitar o colapso

O que está em jogo é, de fato, a sobrevivência do euro. A ameaça de um calote grego fez disparar o risco de todos os países europeus com as finanças públicas debilitadas. Irlanda e Portugal, que já passaram por um plano de resgate, assim como Espanha e Itália, que ainda resistem a recorrer ao FMI e ao fundo de socorro da União Europeia, tiveram que pagar mais pelos títulos da dívida de dez anos. A Bélgica também sentiu como nunca a pressão dos mercados. Só a Alemanha, um dos pilares do euro, escapou da especulação financeira. Uma forte desconfiança cercou a votação do Parlamento grego. Assim que o pacote foi aprovado, porém, o mercado se acalmou e as taxas de risco começaram a cair. “Podemos dar praticamente por certo que a Grécia não vai quebrar, pelo menos no curto prazo”, diz o analista Daniel Pingarrón, da IG Market e Estratégias. “Mas os riscos potenciais ainda existem e as avaliações do mercado podem voltar ao negativo.” O mercado financeiro ainda não está seguro. Segundo projeções, há 80% de possibilidade de a Grécia não honrar suas dívidas.
Apesar dos indicadores positivos da economia brasileira, a crise na zona do euro é também motivo de preocupação. A perda de confiança pode afetar o comércio internacional e estancar o fluxo de investimentos. No entanto, o comércio bilateral Brasil-Grécia é inexpressivo. A Grécia é o 81º país de destino das vendas brasileiras, com uma participação de apenas 0,09% no total das exportações nacionais. Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as exportações de US$ 175 milhões são centradas em produtos básicos como café, fumo e algodão. Por isso mesmo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garante que as consequências da crise grega para o País serão leves. “O Brasil não sofre nenhuma ameaça”, afirma Mantega. 

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