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Em sua nona edição, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece a partir da quarta-feira 6, tem como grande destaque da programação o escritor americano James Ellroy, autor de “Dália Negra” e de “Los Angeles, Cidade Proibida”, ambos adaptados para o cinema. Seguidor da tradição do romance policial noir, Ellroy costuma ambientar suas histórias em Los Angeles, narradas com estilo seco e direto. Não é diferente com “Sangue Errante” (Record), que ele lança na Flip. Última parte da trilogia “Underworld USA”, o livro combina ficção com a história americana (entre as décadas de 1950 e 70) e recorre a figuras reais como o presidente Richard Nixon e o chefe do FBI John Edgar Hoover para inserir as tramas do submundo em perspectiva épica.

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+5 atrações da Flip

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POLA OLOIXARAC (FOTO)
Da nova geração argentina, lançou no Brasil “As Teorias Selvagens”, sobre a ditadura em seu país

VALTER HUGO MÃE
O autor português lança “A Máquina de Fazer Espanhóis”. José Saramago chamou sua obra de “tsunami literário”

JOE SACCO
Nascido em Malta, une linguagem jornalística aos seus quadrinhos e recebeu o American Book Award por “Palestina”

ANTONIO CANDIDO
Um dos maiores intelectuais do País, vai falar sobre a personalidade e a obra de Oswald de Andrade

DAVID BYRNE
Músico e ambientalista, é autor de “Diários de Bicicleta”, sobre a sua experiência de ciclista

 

Leia um trecho do livro "Sangue Errante" de James Ellroy :

 

Los Angeles, 24/2/1964

De repente:

O caminhão de leite fez uma curva fechada à direita e raspou 

o meio-fio. O motorista perdeu a direção. Pisou no freio em pâ-

nico. Causou uma derrapagem de traseira. Um carro blindado da 

Wells Fargo bateu no caminhão de leite de frente/lado.

Ouve só isso:

7h16. Sul de L.A., esquina da 84 com a Budlong. Área residen-

cial para negros. Casebres desprezíveis com terrenos cobertos de 

sujeira na frente.

O choque fez os dois veículos pararem. O motorista do ca-

minhão de leite bateu no painel. A porta do lado do motorista 

 

se escancarou. O motorista tombou e bateu na calçada. Era um 

negro com cerca de 40 anos.

O carro blindado ficou com alguns amassados no capô. Três 

guardas saíram para verificar os estragos. Eram brancos com uni-

formes cáqui apertados. Usavam cintos Sam Browne com coldres 

fechados com botões de pressão.

Ajoelharam-se ao lado do motorista do caminhão de leite. O 

cara estremeceu e ofegou. A pancada no painel tinha aberto um 

talho na testa. Sangue pingava nos seus olhos.

Ouve só isso:

7h17. Céu nublado de inverno. Rua calma. Sem tráfego de pe-

destres. Sem burburinho provocado pela batida de carro, ainda.

O  caminhão  de  leite  arfou. O  radiador  estourou. Uma  nu-

vem de vapor sibilou e se espalhou até longe. Os guardas  tossiram 

e enxugaram os olhos. Três homens saíram de um Ford 62 para-

do mais atrás.

Usavam máscaras  e  luvas. Calçavam  sapatos  com  solas  de 

borracha. Usavam cintos carregando bombas de gás em bolsas 

pequenas. Usavam blusas de manga comprida abotoadas. A cor 

da pele estava oculta.

O vapor os cobria. Andaram e sacaram armas com silencia-

dores. Os guardas tossiram. Isso forneceu cobertura sonora. O 

motorista do caminhão de leite sacou uma arma com silenciador 

e atirou na cara do guarda mais próximo.

O  som  foi uma pancada  surda. A  testa do guarda explo-

diu. Os  outros  dois  guardas  tentaram  sacar  as  pistolas. Os 

mascarados atiraram neles pelas costas. Estremeceram e tom-

baram para a  frente. Os mascarados atiraram na cabeça dos 

dois, à queima-roupa. Os estampidos e o estalar dos crânios 

soaram abafados.

São 7h19. Ainda está silencioso. Ainda não há tráfego de pe-

destres ou burburinho causado pelo acidente de carro.