Quando se fala em Émile Zola, Alexandre Dumas e Honoré de Balzac – para citar alguns dos escritores clássicos –, é como se houvesse uma linha divisória entre leitores adultos, adeptos da literatura dita séria, e jovens, que a princípio não se interessariam pelos livros de três dos mais importantes representantes das letras francesas. Mas a barreira pode ser derrubada. Pelo menos é esta a intenção da coleção Germinal, da Cia. das Letras – divisão infanto-juvenil da Companhia das Letras –, que pretende despertar o interesse não só dos mais jovens como atrair um público normalmente avesso a livros de linguagem rebuscada, enredos pesados e incontáveis páginas. O projeto pode parecer temerário, porque, com justa razão, condensações nem sempre foram bem-vistas. Há, no entanto, exceções. Em 1807, dois séculos após o período em que foram escritas, 20 das peças mais importantes de William Shakespeare, adaptadas para a forma de contos pelos irmãos Charles e Mary Lamb, alcançaram grande sucesso editorial, sendo lidas e relidas até hoje como ponto de partida e referência para qualquer um que se interesse pela obra do dramaturgo inglês.

Como mais uma justificativa positiva, Fernando Nuno – editor da série inaugurada justamente com Germinal (256 págs. R$ 14,50), a obra-prima de Zola – afirma que nas escolas brasileiras não existe tempo curricular para o aluno se dedicar à leitura. Aí entram as verdadeiras vantagens da coleção idealizada em companhia de sua mulher, a jornalista Silvana Salerno, que são condensar as obras mais caudalosas para que elas possibilitem deleite e ainda funcionem como auxílio a outras disciplinas, como história e a própria literatura. Monteiro Lobato, por exemplo, teve idéia semelhante ao escrever D. Quixote das crianças, baseado em Cervantes, no qual inseriu o personagem espanhol no cotidiano do Sítio do Picapau Amarelo.

A Cia. das Letras não quer chegar tão longe. “No caso de Zola, o texto, as expressões características do autor, assim como o núcleo central da história, foram mantidos. A preocupação foi eliminar as longas descrições”, conta Silvana, responsável pela adaptação de Germinal. Lançado em 1885, o livro conta a história de um operário que, após ser despedido, vai trabalhar numa mina de carvão, onde se torna líder grevista. Por retratar – sob a ótica de Zola – a fundação da Primeira Internacional Operária em 1864, liderada por Karl Marx, em Londres, os organizadores resolveram juntar ao livro a descrição do momento sócio-literário e um breve resumo do que representaram as quatro Internacionais.

Em relação ao segundo volume da série,

A rainha Margot

(350 págs., R$ 18,50), de Alexandre Dumas (pai), adaptado por Nuno, o texto teve de ser bastante alterado. Originariamente, o autor descreve fatos do cotidiano sem maiores explicações, já que escrevia para seus contemporâneos. Agora, estes mesmos fatos foram acrescentados à narrativa com as devidas contextualizações. Um detalhe interessante é o esclarecimento da ascendência negra de Dumas. De fato, sua avó era uma escrava negra, engravidada, vendida e novamente comprada por seu avô, que, ao ver-se sem herdeiros no final da vida, resolveu legalizar a situação. Por enquanto, a coleção

Germinal

tem no prelo

Ilusões perdidas

, de Honoré de Balzac. Mas em breve deverá também contar com obras da literatura brasileira.