Uma lista de discos fundamentais não estará completa se não trouxer a obra-prima What’s going on, do soul man americano Marvin Gaye, morto pelo próprio pai, um pastor protestante, em 1984, um dia antes de completar 45 anos. Divisor de águas da black music, What’s going on rompeu com o formato das canções românticas de três minutos, ao abordar, através de uma espécie de suíte, temas inéditos para o gênero, como a Guerra do Vietnã, a ecologia e o cotidiano dos negros. Em se tratando do talento de Gaye, contudo, até sua produção menor – feita na medida para as rádios e contra as quais ele se revoltaria – se coloca bem acima da média. É o que se comprova no CD Marvin Gaye and friends, coletânea reunindo seus antológicos duetos com as mais belas vozes femininas da fábrica de sucessos Motown.

A todo momento aparecem antologias de Gaye, mas o lançamento desta com certeza se justifica, mesmo sendo uma variante do antigo Marvin Gaye and his girls, de 1969. São 18 faixas muito bem escolhidas de suas parcerias com as divas soul Mary Wells, Kim Weston, Tammi Terrell e Diana Ross. Quase metade do disco centra-se nos três anos em que dividiu os microfones com Tammi, sua melhor partner, que um dia desmaiou nos braços do amigo durante um show. Eram os primeiros indícios do câncer que a levaria aos 24 anos. A emocionante faixa Ain’t nothing like the real thing mostra como a química entre eles era perfeita. Com Diana Ross, o clima é um pouco diferente. À época grávida, a cantora não quis compartilhar o estúdio com o músico fumante. Gravou separadamente os duetos, entre eles os clássicos You are everything e Stop look listen (to your heart), exemplos de que algo muito bom definitivamente se perdeu na
música pop.