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CUSTOS
A obra será financiada por moradores de quase 100 loteamentos irregulares da cidade

Niterói é uma das localidades que mais concentram obras do arquiteto carioca Oscar Niemeyer no mundo. Esse detalhe leva milhares de turistas estrangeiros a atravessar a Baía de Guanabara exclusivamente para conhecer a cidade ligada à capital Rio de Janeiro por uma ponte fincada no mar. Seis construções já integram o Caminho Niemeyer, um conjunto arquitetônico à beira-mar que está em construção. O Museu de Arte Contemporânea (MAC) é uma delas. Mas uma nova curvilínea criação do mestre promete causar impacto: são os 15 pórticos de segurança que o prefeito Jorge Roberto Silveira (PDT) promete instalar nos acessos a Niterói, cidade de aproximadamente 487 mil habitantes. A promessa do prefeito, que está em seu quarto mandato, tem quase dez anos. Agora aguarda apenas a aprovação da Câmara de Vereadores para a proposta da lei que estipulará uma taxa de compensação a ser paga por moradores de quase 100 loteamentos considerados irregulares, por supostamente privatizarem áreas públicas.

O que for arrecadado será usado na construção dos pórticos, orçados em R$ 50 milhões. O objetivo é criar uma espécie de cinturão de segurança em torno da cidade, impedindo, por exemplo, a fuga de criminosos. Eles terão guaritas e serão equipados com câmeras e radares. É a primeira vez que Niemeyer, de 103 anos, projeta pórticos. A neta dele, a arquiteta Ana Elisa Niemeyer, é responsável, junto com o colega Jair Valera, por desenvolver o projeto a partir dos traços do avô. Caso seja aprovada pelos vereadores, a nova taxa custeará integralmente a construção, explicou o secretário-executivo das obras do Caminho Niemeyer, Selmo Treiger. “Não queremos tirar a segurança conquistada pelos loteamentos que fecharam o acesso às áreas públicas, mas a prefeitura precisa ser compensada”, argumentou.

A solução que, segundo ele, resolveria dois problemas – o dinheiro para a construção dos pórticos e a regularização de loteamentos – tem causado polêmica. Um dos políticos refratários é o vereador Renatinho (PSOL), para quem a construção de pórticos de segurança é importante, mas não prioritária. “Temos problemas habitacionais sérios. A cidade tem 10 mil desabrigados”, afirmou, lembrando os deslizamentos no Morro do Bumba, em abril de 2010, cujos sobreviventes ainda aguardam moradias definitivas. Alheio à discussão, o arquiteto Niemeyer se concentra para gerar obras de arte a céu aberto, mais uma vez. “Três pórticos já foram desenhados”, disse a neta Ana Elisa à ISTOÉ. Resta saber quando serão construídos. 

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