O cabeleireiro da presidente retoca o cabelo dela uma vez por mês em Brasília e conta que a ensinou a se maquiar e a se pentear

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VISUAL
Ele sugeriu que Dilma usasse o cabelo todo branco ou
fizesse uma mecha clara na frente, mas ela não quis

Celso Kamura, 51 anos, é hoje um dos cabeleireiros mais badalados e respeitados do País. Natural da pequena cidade de Bela Vista do Paraíso, o paranaense foi alçado ao posto de cabeleireiro oficial da Presidência ao comandar uma transformação que suavizou a aparência da presidente Dilma Rousseff. Desde a corrida presidencial de 2010, é ele quem define como será o visual de Dilma, da sobrancelha até o último fio de cabelo. Dono de dois salões de beleza, um em Campinas e outro na capital paulista, que atendem cerca de 170 pessoas por dia, o “mago das tesouras” tornou-se conhecido por fazer a cabeça de algumas das mulheres mais exuberantes do show biz nacional. Por suas mãos já passaram as madeixas das belas Angélica, Grazi Massafera, Juliana Silveira e da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da senadora Marta Suplicy. O leque variado de clientes inclui até mesmo o estilista e amigo Alexandre Herchcovitch. No ano em que completa três décadas de carreira, o hairstylist fala sobre sua relação com a presidente, revela os segredos de beleza das famosas e comenta os bastidores de uma das profissões mais glamourosas do mundo.

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"Quando a Dilma precisa de mim para algo pessoal, paga do próprio bolso.
Em ocasiões de Estado, quem me paga é o (marqueteiro) João Santana"

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"A Gisele Bündchen não coloca megahair, mas usa tiras de cabelo,
presas com presilhas perto da raiz, para deixar os fios mais volumosos"

ISTOÉ

Como você avalia o trabalho realizado com a presidente Dilma? 

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Celso Kamura

Acho que Dilma está mais feminina, mas continua em transformação. Ela aprendeu a se maquiar e está cada vez mais bonita. Mas a presidente, assim como toda mulher, também tem suas vontades, pede para o cabelo ficar mais baixo, mais escuro.  

ISTOÉ

Há alguma sugestão sua que ela não aceitou? 

Celso Kamura

Durante a campanha cheguei a sugerir que ela deixasse os cabelos brancos como a Meryl Streep no filme “O Diabo Veste Prada”, mas ela não gostou muito da ideia (risos). Recentemente conversamos sobre a (ministra das Finanças da França) Christine Lagarde. Dilma disse que gosta da maquiagem de Lagarde, que é bem simples, com um terracota no rosto para dar frescor. Eu disse que ela poderia deixar o cabelo todo branco como a francesa ou fazer uma mecha bem clara na frente, para não ter problema com os fios brancos. E ela respondeu: "Deus me livre! Vou parecer o quê? Um papagaio?" 

ISTOÉ

O que acha que ainda falta no visual da presidente?
 

Celso Kamura

Sempre quero mais, sempre acho que ela poderia mudar. Acho que Dilma deveria se envolver mais com a moda. Ela é superfiel às pessoas que trabalham com ela e está contente com seu visual agora. Mas o Brasil está no cenário internacional de moda e a nossa presidente ainda não se interessou pela moda brasileira. Gostaria muito que ela se envolvesse mais com nossos estilistas. O resultado seria uma Dilma diferente, mais contemporânea. Ela é muito clássica. 

ISTOÉ


Já viajou para o Exterior acompanhando a presidente? 

Celso Kamura

Ainda não. Em todas as viagens internacionais ela foi sozinha. Eu preparei para ela um kit viagem. Uma caixa de primeiros socorros com musse e cera para cabelo, spray finalizador, corretivo, base, pó, rímel, sombra bege e marrom, blush, batom acobreado, secador e escova. Ensinei-a como ajeitar o cabelo, secando com os dedos mesmo e finalizando com escova só na frente. Ela cuida do visual sozinha, não precisa da ajuda de ninguém.
 

ISTOÉ

Com que frequência atende a presidente? 

Celso Kamura

Pelo menos uma vez por mês, no Palácio da Alvorada, sempre aos domingos. Enquanto vou fazendo meu trabalho, ela não para. Fica o tempo todo com o laptop no colo, checando e-mails, lendo notícias ou escrevendo. No dia a dia quem cuida do visual dela é a Isaura, uma cabeleireira dos tempos em que a presidente era ministra. Ela faz o básico, uma escova e só. Corte e coloração sou eu que faço. Geralmente aparo só as pontas do cabelo, passo uma tintura no tom louro médio e aplico descolorante nas pontas, para dar uns reflexos mais claros.  

ISTOÉ

Quanto você cobra pelo corte dela?
 

Celso Kamura

Não posso revelar quanto cobro pelo corte, mas é um pouco mais caro do que o meu corte padrão (R$ 350) porque tem as despesas de locomoção até Brasília. Quando a Dilma precisa de mim para um corte de manutenção, uma tintura, algo pessoal, ela faz questão de pagar do próprio bolso. Cobro o mesmo que cobraria de uma executiva, por exemplo. Já em ocasiões de Estado, como a visita do presidente Barack Obama, quem me paga é o (marqueteiro) João Santana. Nesses eventos cobro uma diária, que equivale à diária de um trabalho publicitário, mais passagem e hospedagem. 

ISTOÉ


Como aconteceu a aproximação com Dilma? 

Celso Kamura

Quem me indicou para a Dilma foi o próprio João Santana, que eu conheci durante a campanha da (senadora) Marta Suplicy para a Prefeitura de São Paulo. Ele viu de perto as mudanças que fiz na Marta e achou que eu seria a pessoa certa para revitalizar o visual da Dilma. Num primeiro momento, adorei receber o convite, mas depois fiquei apavorado. Mas todas as más impressões que eu tinha da Dilma antes de conhecê-la se dissiparam em nosso primeiro encontro. 

ISTOÉ

O movimento no seu salão aumentou? 

Celso Kamura

Sim, mas não é algo que eu consigo medir e dizer, sabe? Não foi um aumento assustador, mas percebi que algumas mulheres passaram a frequentar o salão para copiar o look da Dilma. Pedem o mesmo corte ou a mesma cor de cabelo. 

ISTOÉ

O que suas clientes socialites acham do fato de você ser o cabeleireiro da presidente?
 

Celso Kamura

Durante a campanha, elas não gostavam. Faziam comentários ruins, diziam que não confiavam nela. Agora isso mudou, 90% das clientes que não gostavam da Dilma antes, agora gostam. Elas aprovam o governo da nova presidente. 

ISTOÉ

Já pediram que você transmitisse um recado ou pedisse um favor a ela?
 

Celso Kamura

Toda hora. Muitas clientes pedem. Gente que trabalha em educação, por exemplo, quer que eu peça para a Dilma mais investimentos nessa área. Mas já coloquei na minha cabeça que não faço esse papel. Eu me recuso! Não sou garoto de recados, né?  

ISTOÉ

Quem foi sua primeira cliente famosa?
 

Celso Kamura

 A Marta Suplicy. Ela foi um marco na minha vida profissional. Eu a conheci quando ela era deputada, estava prestes a apresentar um programa na Bandeirantes e queria repaginar o visual. Depois eu a acompanhei durante a campanha para prefeita de São Paulo e continuamos nos encontrando até hoje. Desde a primeira vez que a vi fui sincero. Disse: “Olha, eu não cortaria seu cabelo desse jeito e o tom está errado.” Dei meu cartão e uma semana depois ela apareceu no meu salão para mudar o look.

ISTOÉ

Qual é a principal diferença entre atender uma pessoa comum e uma celebridade?
 

Celso Kamura

Atender celebridade é uma grande responsabilidade. Você tem que pensar se a pessoa vai gostar, se o público vai aprovar, o que a imprensa vai dizer. Já quando atendo a mulher da vida real, sou só eu e ela na cadeira. Gosto mais de ver uma mulher comum sair deslumbrante do salão do que cuidar da beleza de uma famosa, que é linda por natureza.
 

ISTOÉ

Quais celebridades usam megahair e escondem isso?
 

Celso Kamura

Acho que nenhuma esconde mais. A Gisele Bündchen, por exemplo, não coloca megahair, mas usa de vez em quando as tiras de cabelo, presas com presilhas perto da raiz, para deixar os fios mais volumosos. Todas as “angels” da Victoria’s Secret usam. Você acha que aqueles quilos de cabelo são verdadeiros? Não tem como!  

ISTOÉ

A que você atribui a glamourização da atividade de cabeleireiro? 

Celso Kamura

Para mim, isso começou nos anos 1970 e 80, com o Sylvinho, que era uma figura muito conhecida no País. Depois, os cabeleireiros saíram da mídia. A retomada aconteceu no início dos anos 90, quando a moda brasileira ganhou força e trouxe a profissão de cabeleireiro de volta aos holofotes. O São Paulo Fashion Week deu um grande destaque para o profissional.
 

ISTOÉ

Entre os estrelados, existe muita disputa por clientes famosas? 

Celso Kamura

Alguns cabeleireiros se prestam a esse papel de ficar cantando cliente dos outros. Já aconteceu de algumas clientes minhas me contarem que certos cabeleireiros mandam sugestões, presentes, insistem mesmo. Profissionalmente sempre fui muito seguro, então estou satisfeito com aquilo que tenho. Não preciso ficar cortejando cliente alheia. Tem que ter ética, mas infelizmente isso não é uma realidade na minha profissão.
 

ISTOÉ

Quem você gostaria de atender e ainda não teve oportunidade?
 

Celso Kamura

 A Vera Fischer. Não sei quem cuida do visual dela, mas acho que ela está muito mal-arrumada. Ela aparece sempre mal maquiada, mal penteada, há anos. E ela é uma pessoa que eu sempre achei linda, maravilhosa. Sempre quis arrumá-la. Principalmente agora que ela está mal.

ISTOÉ

Que ministra do atual governo precisa repaginar o visual? 

Celso Kamura

A (ministra da Secretaria de Comunicação Social) Helena Chagas. Ela tem um cabelo cacheado lindo, mas vive de escova. Quando a vejo sempre digo “vamos assumir os cachos”, mas ela continua usando os fios lisos.
 

ISTOÉ

Ter um cabelo bonito é possível mesmo para as mulheres que não podem gastar muito com ele?
 

Celso Kamura

É. Se você não tem dinheiro para ir a um cabeleireiro bom, opte por um corte mais básico, à prova de erros. Se precisa tingir o cabelo, pode usar tinturas ou tonalizantes caseiros. Se precisa tratar ou hidratar, há muitos produtos bons e baratos no mercado. Então não é tão caro assim ter um cabelo bem cuidado. 

ISTOÉ

Seus rendimentos hoje permitem que você viva com conforto?
 

Celso Kamura

Sim, mas não anda sobrando muito tempo para gastar meu dinheiro, não (risos). Não sou consumista. Mas se, por exemplo, quero trocar meu carro, vou lá e escolho o modelo, sem me preocupar se terei dinheiro para pagar, sabe? Não sou rico, mas vivo bem com aquilo que ganho.  

ISTOÉ

Desde quando possui aplique no cabelo? Não pensa em mudar?
 

Celso Kamura

Uso megahair há sete anos. O visual com cabelo comprido e grisalho é minha marca registrada. Até penso em mudar, mas só se for para passar máquina em tudo. Se um dia eu mudar mesmo, serei radical.
 

ISTOÉ

Já fez plástica?
 

Celso Kamura

Ainda não fiz, mas penso em fazer. Puxar o olho, o pescoço, deixar a expressão mais jovem. Mas já aplico botox uma vez por ano. Quando faço, falo para a dermatologista: “Não quero aquela sobrancelha de diabo, hein!” Ela pega leve para não ficar exagerado. 


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