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SEM ESCALA
Dilma foi a única titular da pasta pós-FHC que não foi abatida por denúncias

Instalada no quarto andar do Palácio do Planalto, a Casa Civil da Presidência da República é um cargo-chave na estrutura de governo. A proximidade do titular da pasta com o presidente transforma-o numa espécie de superministro. O posto costuma ser comparado ao de primeiro-ministro nos regimes parlamentaristas e os norte-americanos se referem ao chefe da Casa Civil brasileiro como chief of staff, ou seja, o responsável pelo monitoramento das ações de governo e pelo desempenho dos demais colegas do primeiro escalão. Assediado por empresários e políticos, cabe ao ministro da Casa Civil dar assessoramento direto ao presidente. Apesar de enfeixar esses imensos poderes, o cargo na era petista tornou-se de alta rotatividade. Em oito anos e cinco meses, a Casa Civil teve quatro ministros e um interino. Três foram demitidos em meio a crises políticas.

Nenhum deles teve o mesmo destino que o chefe da Casa Civil nos tempos em que Itamar Franco era o presidente da República. Assim como seus sucessores petistas, Henrique Hargreaves também foi abalroado por denúncias a respeito de seu comportamente ético. Antes de a crise contaminar o governo, no entanto, Hargreaves afastou-se do cargo para que fosse investigado. Ao cabo, nada foi provado e o então chefe da Casa Civil voltou ao Planalto ainda mais forte.

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LIMPO
Hargreaves saiu, mas voltou após provar inocência

Na era petista o roteiro seria diferente. A começar por José Dirceu. Ele assumiu o cargo no primeiro governo Lula, em 1º de janeiro de 2003. Fundador do PT, Dirceu já havia entrado para a história política ao tempo da ditadura militar, como um dos carismáticos líderes do movimento estudantil, que acabou preso e depois exilado. Ocupou por três vezes seguidas a presidência do PT e, em 2002, foi coordenador-geral da campanha de Lula à Presidência. Premiado com a Casa Civil, tomou gosto pelo poder e rapidamente tornou-se o homem mais forte da República. Alvo de acusações sobre um sistema de compra de apoio ao governo no Congresso, o chamado Mensalão do PT, ficou numa posição insustentável. A pressão pela renúncia de José Dirceu chegou a entrar para o anedotário da política nacional: “Zé, sai daí, Zé”, bradava em seu depoimento ao Congresso o então presidente do PTB, Roberto Jefferson. A queda de Dirceu aconteceu no dia 16 de junho de 2005, dando início à maldição da Casa Civil na era petista.

Cinco dias depois da demissão de Zé Dirceu, Dilma Rousseff assumiu a chefia da pasta. Ela foi convidada pelo presidente Lula pelo perfil extremamente técnico que desempenhava como ministra de Minas e Energia. Mesmo assim, chegou a balançar no cargo. Em 2008, a Casa Civil elaborou um dossiê com gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Dilma admitiu ter um “banco de dados” sobre FHC, mas negou a criação do dossiê. A então ministra se manteve forte e passou a comandar o Programa de Aceleração do Crescimento, um dos grandes trunfos da era Lula. Impressionado com sua eficiência, o presidente Lula escolheu-a para sua sucessão. No início, a decisão causou espanto. Mas Dilma cresceu durante a campanha. E acabou a primeira mulher eleita presidente do Brasil.

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Dilma, portanto, passou ilesa pela Casa Civil. Mas, quando se licenciou para a campanha, deixou em seu lugar a secretária executiva Erenice Guerra. Essa teve destino bem diferente da amiga. Durou pouco mais de cinco meses no cargo e não resistiu às acusações de que seu filho Israel Guerra negociou contratos da empresa de transporte aéreo MTA com os Correios, além de cobrar comissão a uma companhia do setor elétrico para obter empréstimos no BNDES. Erenice pediu demissão por carta ao presidente Lula que, mais do que ressabiado, manteve por ministro interino o técnico Carlos Eduardo Esteves Lima até o fim de seu governo. Hoje, Carlos Eduardo é assessor especial da Casa Civil.

Última vítima da maldição que cerca a Casa Civil, Antônio Palocci tomou posse na manhã do domingo 2 de janeiro, logo depois das comemorações do Ano-Novo. Não havia espaço no saguão do Palácio do Planalto lotado de ministros, empresários, governadores e políticos, para cumprimentar o homem mais poderoso do governo Dilma. Na cerimônia avisou que a Casa Civil teria novas atribuições e, na prática, tomou para si toda a articulação política. Mas, depois da denúncia sobre os negócios de sua consultoria, nem a amizade com Lula foi suficiente para segurá-lo no cargo.“Não fiz tráfico de influência, não fiz atuação junto a empresas públicas representando empresas privadas”, jurou Palocci. Mesmo assim, realizou um feito inédito na política do País. Foi demitido duas vezes do cargo de ministro (a primeira delas, em 2006, estava na Fazenda). Palocci deixou a Casa Civil em 8 de junho, cinco meses e quatro dias depois da disputada posse.

Para o cientista político David Fleischer, o problema não está na Casa Civil, mas nas pessoas que têm ocupado o importante posto. “Dirceu era um presidente alternativo. Erenice não soube conviver com o poder. E Palocci já chegou com problemas”, diz o professor da Universidade de Brasília. Recém-chegada, a ministra Gleisi Hoffmann também prefere não acreditar no mau agouro. “Não há maldição na Casa Civil. Temos um projeto extraordinário de mudança deste país com o qual estou comprometida”, diz Gleisi. Mas, pelo sim, pelo não, Gleisi, como católica praticante que é, faz suas preces. Ao encerrar o discurso de posse, na presença da presidente Dilma, pediu: “Que Deus nos ilumine!” 

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