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FUNDADOR
Homero (abaixo) narra as aventuras de Odisseu (amarrado), que foi tentado pelas sereias
 

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É sempre saudado com superlativos o aparecimento de uma nova tradução das obras do escritor grego Homero, criador há cerca de três mil anos das primeiras narrativas da literatura ocidental. Cada uma dessas versões representa uma tentativa de transpor para o nosso idioma a beleza e as invenções do original e isso acontece agora com “Odisseia” (34 Letras), poema épico que relata o regresso do guerreiro Odisseu (Ulisses, na mitologia romana) para a sua terra natal, após tomar a cidade de Troia. A nobre tarefa coube ao professor de literatura grega da Unicamp Trajano Vieira, que passou um ano às voltas com o turbilhão de 12 mil versos de difícil leitura – mas de uma musicalidade à prova do tempo.

Trata-se da terceira tradução do livro para o português, feita diretamente do grego. A diferença fundamental dessa nova versão para as outras está, segundo Vieira, no cuidado com os aspectos formais de Homero e no uso que ele fez dos jogos de palavras e da repetição de advérbios. “Transpor aspectos formais de um texto tão complexo é um desafio constante. Procurei imaginar construções paralelas, fugindo da reprodução mecânica”, diz Vieira, que se guiou pelo ritmo do poema. “A própria musicalidade das palavras apresenta soluções possíveis”, afirma.

Tal inventividade prenunciou a complexa estrutura de obras literárias posteriores, como “Os Lusíadas” (século XVI), de Luís Vaz de Camões, ou, mais recentemente, “Ulisses”, de James Joyce. Esses livros influenciados por “Odisseia” também serviram de inspiração a Vieira: “ ‘O Aleph’, de Jorge Luis Borges; ‘Cantares’, de Ezra Pound; e até Kafka remetem a Homero. Sua leitura acaba se constituindo num emaranhado de textos em razão do número de obras importantes que inspirou e de que nos lembramos ao estudá-lo”, diz.

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