O futuro ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem a expectativa de que em 2003 serão possíveis negociações para criar alternativas aos graves impasses da América Latina, especialmente os da Colômbia, dilacerada por uma guerrilha endêmica e pelo poder do narcotráfico, e os da Venezuela, onde a radicalização política ameaça o governo constitucional do presidente Hugo Chávez. O embaixador, que deixou a chefia da embaixada do Brasil em Londres, também acredita na recuperação econômica da Argentina e no fortalecimento do Mercosul. Sob sua orientação, ele garante que o Brasil não vai ceder, sem contrapartida, a propostas que não convenham aos interesses nacionais. “Não devemos ficar fazendo concessões a priori, na esperança
de que os outros depois reconheçam isso e nos dêem compensações, porque é preciso exigir na hora em que se faz a negociação”,
disse o embaixador a ISTOÉ. Ele admite que, “em um
passado um pouquinho mais remoto, isso aconteceu”.

Amorim declarou que “repetindo o que o presidente Lula disse
ao presidente Bush, em sua visita a Washington, o Brasil vai
fazer uma negociação muito vigorosa nas reuniões sobre a Área
de Livre Comércio das Américas (Alca), na defesa dos interesses brasileiros, assim como os negociadores americanos são duros na
defesa dos seus”. Em síntese, isso representa mais ênfase à reivindicação de maior acesso de produtos brasileiros no mercado americano, com a derrubada das barreiras protecionistas. Ele
reconhece, contudo , que “não se trata de uma tarefa fácil”.

O chanceler apóia negociações que tornem possível a reintegração de Cuba no sistema interamericano, e é enfático nesse ponto: “Acredito muito mais na busca do diálogo do que em embargos ou sanções unilaterais para Cuba reintegrar-se ao sistema”, afirma, referindo-se
ao embargo econômico imposto a Cuba pelos EUA há 40 anos. Para
o diplomata, “há chances para a paz e o desenvolvimento econômico
e social na América Latina”. Afinal, argumenta, o ambiente político
nesta região, em particular, torna mais viável o entendimento do que
em outros cantos do planeta. Embora reconheça que existem muitos conflitos sociais na América Latina, Amorim acredita que aqui não
existem graves problemas do tipo que ocorrem em outras partes do mundo. “Na América Latina não há, por exemplo, o problema do racismo, e quando se fala em choque de civilizações, não encontramos reflexos disso em nossa realidade. Isso é uma grande vantagem”, afirma.

Ao enfocar o problema do terrorismo internacional, o ministro volta
a ressaltar o “exemplo de convivência de várias etnias no Brasil”. O futuro chanceler disse que não há nenhum sinal de atividades terroristas na fronteira tríplice do Brasil, no Sul, com a Argentina e o Paraguai. “A melhor forma de combater não só este problema, mas qualquer tipo de violência é o exemplo. A eleição do presidente Lula mostra, claramente, uma opção do Brasil pela mudança social, mas pela mudança de forma pacífica.” Para Amorim, o resultado das eleições de outubro mostrou como “o Brasil pode contribuir na busca do entendimento e contra
a violência e outras formas indesejáveis de ação política”.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias