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REDE
Bené circula com desenvoltura no meio político de Brasília

 

O empresário mineiro Benedito de Oliveira, conhecido no PT como Bené, ganhou notoriedade na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, pela maneira meteórica com que ampliou seus negócios. Com serviços prestados ao governo por suas três empresas, Gráfica Brasil, Dialog e Projects Brasil, Bené conseguiu, em apenas quatro anos (2005-2009), sair de um faturamento de R$ 494 mil para R$ 87,3 milhões. Não apenas em razão de seu tino comercial, porém, ele ocupou no ano passado o centro dos holofotes da capital. Como um dos responsáveis por montar a estrutura da campanha petista, Bené tornou-se personagem da eleição presidencial quando foi flagrado num controvertido episódio. Ele participou da famosa reunião do restaurante Fritz, em Brasília, onde representantes do partido contratavam uma equipe de contrainformação para a batalha eleitoral. Na esteira do escândalo, o empresário viveu dias amargos. Virou alvo do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) e teve de submergir. A saída de cena provocou uma redução de quase 60% no seu faturamento em 2010.

 

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INDICAÇÃO
Mário Negromonte (foto) nomeou funcionário que
trabalhava em uma empresa de Bené até o ano passado

Mas foi um recuo estratégico. Este ano Bené voltou a operar com toda a força na capital federal. O empresário tem um modo peculiar de trabalho. Atua por intermédio de uma rede de influências, com indicação de pessoas ligadas a ele para áreas estratégicas de ministérios. E costuma fechar negócios com base na prorrogação de contratos antigos. Alguns de seus métodos, entre eles a prática de adesões à ata de preços (contratos fechados a partir de outros pregões), já foram condenados por órgãos de fiscalização. Segundo o TCU, essa é uma forma de driblar licitações. Só nos primeiros cinco meses de 2011, Bené embolsou R$ 6,3 milhões em negócios com o governo e com aditivos já acertados que lhe permitem prever um faturamento de pelo menos R$ 51 milhões. Será um aumento de 40% em relação ao período de vacas magras do ano passado.

De janeiro a maio, os negócios do empresário fluíram como mel. Em 1º de abril, ele fechou contrato de R$ 3 milhões com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Quatro dias mais tarde, assinou outro de R$ 1,5 milhão com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, com vigência a partir de 6 de abril. Nos dois negócios, Bené foi beneficiado pela prorrogação de contratos antigos. Mas o maior empreen­dimento viria em 4 de maio. A gráfica receberá da Fundação Universidade de Brasília até R$ 23,3 milhões até o final do ano para prestação de serviço de produção, geração e desmaterialização de documentos. Nesse caso, houve a adesão a uma ata de preços de 2009. Essa fórmula foi criticada pelo TCU em acórdão publicado em 2007. Em seu voto, o relator-ministro Valmir Campelo solicita que o Ministério do Planejamento “adote providências de forma a estabelecer limites para a adesão a registros de preços realizados por outros órgãos e entidades visando preservar os princípios da competição, da igualdade de condições entre os licitantes e da busca da maior vantagem para a Administração Pública”. Apesar de recomendação do TCU, o drible continua sendo utilizado em benefício das empresas de propriedade do operador Bené.

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CONTRATO
Gráfica Brasil, de Bené, já recebeu mais
de R$ 6 milhões do governo neste ano

Para seu regresso ao mundo dos bons negócios oficiais, uma das principais portas de entrada para Benedito de Oliveira tem sido o Ministério das Cidades. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), órgão ligado à pasta das Cidades, é um dos clientes da Projects Brasil, que atua no ramo de digitalização de documentos. Bené disse à ISTOÉ que repassou o controle desta empresa, mas permanece ligado a ela. “A Projects não é minha desde o ano passado, mas ainda tenho vínculo como consultor”, disse. Uma função estratégica no Ministério das Cidades é exercida por um ex-funcionário de Bené, Danilo César Ribeiro da Silva Lima. O ministro Mário Negromonte, nomeou Lima para o cargo de coordenador-geral de Modernização e Informática no dia 30 de março de 2011. O servidor, que passou a ser o responsável pela elaboração de projetos e contratação de serviços na área de tecnologia da informação, trabalhava na Projects até há pouco tempo. Ele, inclusive, fez parte da comitiva de funcionários da empresa que participou nos EUA da Missão Empresarial ao Vale do Silício, entre 10 e 21 de maio de 2009. Procurado, Bené disse não lembrar de Lima. “Não sei quem é. Preciso ver no registro de funcionários da empresa para ter certeza. Mas não tive influência nessa indicação”, afirmou. A Projetcs Brasil já esteve envolvida numa licitação considerada irregular pelo TCU. Em novembro de 2009, o tribunal, por intermédio do ministro Benjamin Zymler, mandou suspender o contrato da Dialog, especializada em eventos, com o Ministério da Pesca, após descobrir que Bené incluíra a Projects no pregão com o único objetivo de derrubar os preços e eliminar as concorrentes da Dialog. Convocada pelo pregoeiro, a Projects saiu fora, dando uma vitória à Dialog, mais tarde cancelada pelo Tribunal de Contas.

Para transitar pelo Ministério das Cidades, Bené vale-se de uma amizade antiga com integrantes da cúpula do Partido Progressista (PP). Essa é, por sinal, outra marca de seu estilo. Bené se reúne com os dirigentes da legenda no subsolo de sua loja de vinhos, a Duvin Art, localizada no Lago Sul, área nobre de Brasília. No dia 1º de fevereiro de 2011, um jantar em um clube sofisticado da capital federal reuniu as principais lideranças do PP para comemorar o bom desempenho da sigla nas eleições de 2010. Bené estava lá. Outro cobiçado evento dos progressistas, dessa vez na SQS 311 Sul, não apenas contou com a presença do empresário mineiro como também o teve como o principal fornecedor de bebidas para o convescote. Entre vinhos, bons contratos e poder, Bené, enfim, voltou à tona.

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