A Alemanha iniciou na semana passada um movimento que pode se alastrar mundialmente, colocando por terra os planos do uso de energia nuclear no planeta. O país anunciou o fechamento gradual de suas usinas até 2022, data a partir da qual todas elas deixarão de operar. Um desafio e tanto, dado que 25% de sua geração de eletricidade parte dessa fonte energética. A decisão alemã representa o mais sério posicionamento anti-nuclear desde a tragédia de Fuku­shima, no Japão, que mostrou a fragilidade do sistema e expôs a população a uma ameaça tenebrosa de contaminação. A Alemanha é uma das pioneiras no uso da energia atômica, teve um papel fundamental no desenvolvimento tecnológico dessa alternativa e foi a principal fornecedora para o Brasil quando o País resolveu iniciar o seu programa. O elo das usinas brasileiras com o fornecimento alemão provocou imediata resposta por aqui. O governo Dilma comunicou que também deverá fazer uma revisão estratégica do Plano Nacional de Energia. Estavam previstas quatro novas usinas nucleares até 2035. Angra 2 já opera regularmente e Angra 3 deveria entrar em funcionamento até 2015. Seus equipamentos e instalações fazem parte do amplo contrato firmado entre alemães e os governos militares do Brasil nos idos dos anos 1970. Hoje essa herança é gerenciada pelos franceses, que assumiram o controle acionário das companhias desenvolvedoras do know-how alemão. A questão brasileira sobre a revisão do seu programa e do uso ou não da energia nuclear é muito mais de ordem prática do que de posicionamento ideológico claro contra essa opção. Há entre as autoridades do setor a preocupação de que, com o desembarque alemão, a manutenção e o aperfeiçoamento dessas usinas nacionais sejam prejudicados. Segundo a avaliação de especialistas, da mesma maneira que a saída de linha de um carro compromete no futuro o fornecimento de peças aos proprietários desses veículos, o mesmo pode ocorrer com as unidades de Angra, que demoraram mais de três décadas para virar realidade. O abandono da energia nuclear é um problema menor para o Brasil – que possui inúmeras alternativas, em especial a hidrelétrica –, mas um gigantesco abacaxi para as demais economias que dependem fortemente dessa fonte. Não há como acreditar que ela será completamente abolida. Até porque, em tempos de esforço conjunto para a diminuição da emissão de gases poluidores na atmosfera, não se pode desprezar esse caminho da geração limpa. 


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