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Os cinco bilhões de usuários de telefone celular levaram um susto na última semana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um comunicado no qual afirmou que o uso dos aparelhos possivelmente aumenta a chance de câncer.

O anúncio foi feito após a realização de um encontro que reuniu 31 cientistas de 14 países, em Lyon, na França, organizado para analisar o potencial carcinogênico da exposição humana a campos de frequência eletromagnética, como os criados por radares, micro-ondas, antenas de transmissão de sinais de rádio e tevê e celular. Segundo a entidade, há evidência – limitada – de que a utilização do aparelho está associada a maior risco para glioma (tumor maligno no sistema nervoso central ou na coluna) e neuroma acústico (tumor benigno no canal auditivo).

O anúncio causou enorme confusão e deixou mais dúvidas do que certezas. A conclusão dos especialistas reunidos pela OMS foi obtida após a análise de centenas de estudos científicos, de acordo com o órgão. Mas os cientistas não souberam quantificar o risco (quanto tempo o indivíduo deve ser exposto). Apenas citaram um trabalho, de 2004, que mostrou aumento de 40% na chance de ocorrência de glioma entre os que usavam 30 minutos por dia, por mais de dez anos.

Com base no que encontrou na literatura científica a respeito do assunto, o grupo de pesquisadores resolveu classificar o celular como um agente “possivelmente carcinogênico para humanos”. Essa é uma das classificações criadas pela Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (Iarc, na sigla em inglês), para avaliar o risco de agentes diversos em uma escala que vai de um a quatro. Sob essa designação estão outros 266 agentes – entre eles picles e café.

 

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5 Bilhões é o número de usuários de celular em todo o planeta

 

Na definição da entidade, a classificação representa duas situações: que há evidência limitada de potencial carcinogênico em humanos e menos do que suficientes em trabalhos com animais ou que há evidência inadequada em humanos, mas suficiente em pesquisas com cobaias. “Isso significa que pode haver algum risco”, afirmou Jonathan Samet, coordenador do grupo de especialistas e professor da Uni­versity of Southern California, nos Estados Unidos. “E que a partir de agora devemos ficar muito atentos para um link entre celulares e o risco de câncer.”

De fato, a avaliação da OMS servirá como um estímulo para que mais pesquisas sejam realizadas daqui para a frente – até porque, como a própria entidade admite, os resultados ainda são controversos. Uma das grandes expectativas repousa sobre os resultados do chamado projeto Cosmos, integrado por diversos centros de estudos europeus que tem por objetivo avaliar o impacto do celular sobre a saúde usando como base de amostra cerca de 230 mil pessoas. A ideia é acompanhar esses indivíduos por no mínimo dez anos.

Uma das questões que estão em aberto é a explicação sobre os mecanismos que poderiam levar a essa associação. O documento da OMS, por exemplo, não esclarece isso. E a contar do que se sabe atualmente seria de supor que o aparelho não apresentasse risco de causar qualquer tipo de tumor. “O celular emite uma radiação não ionizante, que, pela biologia, não causa câncer”, afirma o médico Douglas de Castro, do Departamento de Radioterapia do Hospital A. C. Camargo, de São Paulo.

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ATENÇÃO
O cientista Samet alerta para a necessidade de mais pesquisas

De qualquer maneira, autoridades de saúde em todo o mundo preferem recomendar a cautela na utilização do aparelho. “Enquanto não houver mais informações sobre o tema, é importante que o usuário adote medidas que reduzam sua exposição à radiação emitida pelo aparelho”, afirmou Christopher Wild, diretor da Iarc. “Uma delas é recorrer ao fone ou enviar mensagens de texto, mantendo o aparelho distanciado do corpo.”

Outra orientação – essa mais antiga – é a de evitar a utilização por crianças. De acordo com o Ministério de Saúde da Inglaterra, por exemplo, o recomendável é que não seja permitido o uso para os menores. A explicação é a de que, nesta fase da vida, o sistema nervoso ainda está em formação, e, dada a ausência de conclusões mais definitivas, o ideal é deixar os pequenos longe dos aparelhos.  

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