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DOR
Familiares e amigos no enterro dos ativistas José Cláudio
Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santos, em Marabá (PA)

Na última semana o poder público se esmerou em buscar origens distantes, analisar complexos problemas estruturais e imaginar peculiaridades antropológicas e culturais para explicar uma questão objetiva: por que não consegue dar proteção a ativistas jurados de morte. Um País que, no passado, viu a morte de Chico Mendes e Dorothy Stang e, nos últimos dias, de cinco lideranças ligadas à defesa da Amazônia debruça-se, agora, sobre a discussão de um plano de ação que não merece grande crédito nem das autoridades envolvidas.

Em entrevista à ISTOÉ (leia abaixo), Simão Jatene (PSDB), ­governador do Pará, Estado recordista em assassinatos e conflitos no campo, se declarou pessimista sobre o futuro. “Tenho uma só certeza: da maneira como essas coisas têm historicamente ocorrido, o final não é feliz,” declarou. “Novos assassinatos vão acontecer” disse ele. Na mesma linha de resignação, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, en­tende que já é um imenso avanço o Brasil ser “o único país do mundo com um programa de proteção aos defensores dos direitos ­humanos”.

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“Viver sob escolta é uma violação aos direitos humanos”
Maria do Rosário, ministra dos Direitos Humanos

A resposta do Estado brasileiro ao faroeste amazônico é pouco mais que retórica. Um grupo interministerial foi criado na segunda-feira 30 para acompanhar a investigação das últimas mortes ocorridas nas regiões de conflito e acelerar ações de regularização de terras. Como o governo se declarou incompetente para dar proteção a uma lista de 165 ativistas jurados de morte por fazendeiros, foi adotada uma solução mambembe. A Polícia Federal foi convocada para proteger os 30 líderes mais vulneráveis. “Seria ilusório dizermos que vamos proteger todas essas pessoas. Não poderia prometer isso ao Brasil,” declarou Maria do Rosário. Ela chega a alegar que “viver permanentemente sobre escolta é uma violação aos direitos humanos”.

Quem vive sob o medo pensa o contrário. A sindicalista de Rondon do Pará, Maria Joel Dias da Costa, 48 anos, desabafa: “Estamos sozinhos nessa luta.” Desde o assassinato de seu marido, o ativista José Dutra da Costa, em 2000, e de outros três amigos nos anos seguintes, ela sabe que pode ser a próxima vítima. Seu nome consta na lista dos “marcados para morrer” elaborada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e entregue ao poder público. Mas Maria segue desamparada. A garantia de sua vida parece ser uma impossibilidade administrativa.

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