Tombaram assassinados na semana passada os extrativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, que combatiam o desmatamento desenfreado e ilegal na região do Pará, onde moravam. Sinal dramático da derrota gradativa da causa ambientalista, que vem apanhando até no Legislativo, a morte do casal ocorreu coincidentemente no mesmo dia em que deputados votaram e aprovaram o novo Código Florestal cujo teor é claramente favorável aos interesses ruralistas. Os madeireiros são os principais suspeitos da emboscada que vitimou José e Maria. São também os maiores benefi ciários do novo código que saiu da Câmara. O mundo sublinhou que “destruidores da fl oresta” venceram mais uma vez. Em duas frentes. Eliminando adversários – tal e qual ocorreu com o líder seringueiro Chico Mendes, anos atrás – e legalizando décadas de abate ambiental. Como afronta à preocupação do planeta com a preservação do meio, o código prevê, inexplicavelmente, anistia geral e irrestrita aos devastadores da Amazônia que praticaram o crime até 2008. Uma aberração! Milhares de hectares de árvores foram sistematicamente derrubados para exploração comercial, sem nenhuma fi scalização, deixando a céu aberto amplos clarões no cinturão verde do País. O corte irresponsável e a queima de matas constituem hoje um dos maiores desastres globais e o Brasil, em vários Estados, lidera as estatísticas desse atentado ecológico. Um documento explosivo entregue ao governo federal por autoridades de Mato Grosso mostra que nos meses de março e abril – portanto às vésperas da aprovação do código – houve um aumento do ritmo de desmatamento em quase 500% sobre o mesmo período do ano passado. A certeza da impunidade e do perdão que viria a seguir teria levado ao quadro de tragédia. Quase em simultâneo, José e Maria faziam uma persistente campanha alertando para o problema e denunciavam que estavam sendo ameaçados de morte pela ousadia de encarar o lobby madeireiro. O poder constituído fechou os olhos aos dois crimes. O destino dos ambientalistas foi selado. Políticos movidos por interesses
econômicos específi cos – eles mesmos proprietários de terras, como revelou ISTOÉ em sua edição de número 2165 – impuseram uma derrota fragorosa ao governo Dilma e com a canetada a favor do código sacramentaram a exploração desenfreada do meio ambiente. Por leniência, descaso e até mesmo conivência dos que podiam fazer alguma coisa e não o fi zeram, José, Maria e milhares de árvores foram abatidos. A presidente Dilma, irritada  com o desfecho, vai brigar para reverter o processo. Ameaçou vetar o código, exigiu o fi m da anistia aos desmatadores e o estabelecimento de áreas de proteção da vegetação nativa nas propriedades rurais e nas margens de rios e encostas. Ainda há uma esperança de que as mortes de José e Maria não tenham sido em vão.