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O governo da Tailândia ainda não se manifestou a respeito, mas não será nenhuma surpresa se o país considerar o cineasta americano Todd Phillips como persona non grata dentro de suas fronteiras. Isso porque o criador do sucesso “Se Beber, Não Case!”, a comédia “para maiores de 16 anos” de maior bilheteria da história (faturou US$ 467 milhões), ambientou o segundo episódio do filme em Bangcoc e mostrou a metrópole asiática como merecedora do título de cidade do pecado, dado a Las Vegas no longa anterior, de 2009. A capital tailandesa é equiparada a uma barulhenta feira livre onde vendedores de legumes foram trocados por traficantes russos, árabes vendedores de armas, monges budistas com voto de silêncio e toda a sorte de prostitutas. É nesse antro multicultural sujeito a apagões periódicos que transitam dessa vez os amigos Alan (Zach Galifianakis), Stu (Ed Helms) e Phil (Bradley Cooper), às voltas novamente com uma amnésia alcoólica ou decorrente de algum tipo de sonífero.

A turma, em cartaz nos cinemas, está no país oriental porque Stu, o dentista do grupo, vai se casar com uma jovem de lá. Não promovem exatamente uma despedida de solteiro como no passado, mas o resultado é o mesmo: ao acordar em um quarto imundo de um prédio em ruínas, só se lembram que tomavam cerveja nas areias do resort onde se daria o casamento. Os primeiros indícios de loucura: o noivo exibe uma tatuagem a Mike Tyson recém-riscada no rosto, o seu cunhado desapareceu e um macaco vestido com uma roupa de roqueiro piora o seu estado de ressaca. Quem gostou do primeiro longa, o mais pedido em serviços on demand nos EUA e um dos campeões em retiradas das locadoras brasileiras, vai continuar rindo das piadas incorretas de Galifianakis, egresso do stand up e seguidor da tradição do comediante feio-palhaço que vem de John Belushi e Jack Black. A parcela do público que torceu o nariz para as grosserias do cineasta Todd Phillips vai fugir na metade. O que não significa que “Se Beber, Não Case! Parte II” seja melhor: mudadas as situações, ele é exatamente o mesmo filme de antes.

Em entrevista ao jornal americano “Los Angeles Times”, o diretor disse que “a chave para qualquer sequência cinematográfica é recriar a experiência sem refazer o filme”. Mas Phillips não seguiu sua regra à risca e o que era novidade na história anterior vira mera repetição. Até que as confusões em Bangcoc engrenam. O motor das trapalhadas dessa vez é o roubo de um macaco traficante pelo criminoso internacional Mr. Chow, aquele mesmo chinês que no enredo passado havia sequestrado o quarto amigo dos três patetas de classe média que adoram chafurdar no submundo. Uma das 27 continuações que devem estrear nos próximos meses, “Se Beber, Não Case! Parte II” é mais uma prova de que hoje em Hollywood já se cria um blockbuster pensando nos filhotes que vai gerar. No leque de novidades à disposição, optou-se por um filão inesgotável que é ambientar histórias em países exóticos. Mas o que vai manter a franquia de pé é outra receita: a dos “buddy films” (filmes de “brodagem”), na linha de “Onze Homens e um Segredo”, por exemplo.

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RESSACA
Zach Galifianakis, Bradley Cooper e Ed Helms com o macaco traficante:
amnésia alcoólica dessa vez passada em Bangcoc, na Tailândia

Não são todos esses títulos, contudo, que conseguem ultrapassar o público masculino e atingir de adolescentes a senhoras da terceira idade, como garante Phillips: “Vi vovós assistindo ao meu filme”, diz ele. Foi esse detalhe que deu origem à nova franquia. No caso, o segundo episódio teve sinal verde na fase de testes de audiência do original, dois meses antes de sua estreia. Com todas as regalias da Warner (que quase triplicou o orçamento, colocando em sua mão US$ 78 milhões), Phillips só teve um revés durante as filmagens: o cancelamento da participação especial de Mel Gibson no papel de um tatuador. Ele teve de ser trocado por Nick Cassavetes em resposta à agressão a sua mulher.

A presença de Gibson, famoso pelas posições conservadoras, não seria nada diante das ousadias do diretor, que lança mão mais uma vez da nudez frontal masculina e de muitas bizarrices – o que valeu do executivo da Warner Jeff Robinov o comentário de que a trama “ultrapassou um pouquinho os limites”. Isso também não é novidade na carreira de Phillips: para fazer o seu primeiro filme, um documentário sobre um músico punk que se auto-mutilava, ele vendeu cartazes do longa com autógrafos de John Wayne Cacy, serial killer morto por injeção letal. Com um pé atrás, o estúdio já deu carta branca para o episódio três. Que não tenham a ideia de rodá-lo no Brasil.

O filão da “brodagem”
Filmes sobre amigos é um gênero que sempre deu certo

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Trainspotting – Sem limites
Elenco: Ewan McGregor, Ewen Bremner, Kevin McKidd, Robert Carlyle
Tipo de confusão: um grupo de jovens tenta se desvencilhar do vício de drogas
Faturamento: US$ 72 milhões

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Onze Homens e um segredo
Elenco: George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Don Cheadle
Tipo de confusão: onze homens se reúnem para roubar três cassinos em Las Vegas
Faturamento: US$ 450 milhões

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Três solteirões e um bebê
Elenco: Tom Selleck, Steve Guttenberg, Ted Danson 
Tipo de confusão: amigos machões são obrigados a cuidar de uma criança
Faturamento: US$ 180 milhões

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E aÍ, meu irmão, cadê você?
Elenco: George Clooney, John Turturro, John Goodman
Tipo de confusão: ex-presidiários fogem da polícia e vivem situações improváveis
Faturamento: US$ 72 milhões