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Fazer exame de DNA. Responder a um questionário com 400 perguntas. Descobrir qual neurotransmissor age com maior incidência no próprio cérebro. Essas não são etapas classificatórias para um programa de cobaias humanas. Nem testes para capacitar pilotos de avião ou médicos. São filtros usados na mais prosaica das atividades humanas: a paquera. E funcionam, argumentam seus criadores. Segundo eles, esmiuçar o próprio DNA e passar dias respondendo a questionários infinitos é o caminho mais eficiente para encontrar alguém com mais chances de ter uma relação amorosa de sucesso. “Mas indicar a pessoa perfeita ainda é impossível”, reconhece Gian Gonzaga, psicólogo e diretor de pesquisa e desenvolvimento de um site de relacionamentos. A empresa para a qual ele trabalha, sediada na Califórnia, desenvolveu um método científico, e patenteado, para encontrar o melhor par para cada usuário do serviço. Custa R$ 60 mensais e na média a pessoa leva cerca de nove meses para encontrar um parceiro.

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EXPECTATIVA
Rodrigo, 24 anos (acima),se inscreveu no site em busca de relacionamento sério.
Maricélia (abaixo), 52, preencheu durante horas um extenso questionário 
 

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 Só nos Estados Unidos, a eHarmony, de Gonzaga, diz que viabiliza 542 casamentos todos os dias. São 33 milhões de usuários cadastrados em 191 países, sendo pelo menos 100 mil brasileiros. Segundo a empresa, tal sucesso vem de décadas de estudo, tanto de relacionamentos que dão certo quanto dos que dão errado. Tudo foi condensado por um exército de psicólogos e matemáticos para criar um algoritmo que cruza as informações do banco de dados para apontar quais casais têm mais chances de vingar. “Temos um laboratório na Califórnia onde estudamos padrões de paquera”, diz Gonzaga.

“Sempre fui muito desconfiada desse tipo de site”, admite Maricélia da Silva, 52 anos, divorciada, inscrita no eHarmony desde novembro passado, quando o serviço aportou por aqui. Qual não foi sua surpresa ao preencher o imenso questionário – em três longas etapas de duas horas cada uma – e descobrir que o perfil traçado pelo software batia exatamente com o que ela esperava. “Fiz anos de terapia e nunca ninguém traçou um perfil tão preciso de mim”, afirma. Em pouco tempo, ela começou a receber indicações de homens interessados. Que, segundo ela, correspondiam às suas expectativas. “Tem gente que não é muito sincera nas respostas”, afirma Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia da Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (NPPI-PUC/SP). É uma das vulnerabilidades desses métodos, embora os questionários mais sérios repitam as perguntas fundamentais de maneiras diferentes. “Mas mentir é se sabotar”, diz Luciana.

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Eficiência científica é a grande promessa dessa nova leva de sites que recorrem até à genética e à química para encontrar o par pefeito. O GenePartner.com, criado na Suíça, faz uma análise do DNA do pretendente para indicar alguém com quem as chances de ter uma vida sexual saudável e uma gravidez bem-sucedida sejam maiores. O americano Chemistry.com analisa a preponderância de seis substâncias no organismo para indicar parceiros que combinam, quimicamente, entre si. “Esse desejo por eficiência até nas relações amorosas é uma coisa típica da nossa época”, diz a psicoterapeuta Noely Montes Moraes, professora em relações de gênero da PUC-SP. “As pessoas se acostumaram a satisfazer todos os seus caprichos e estão cada vez menos dispostas a se frustrar, então recorrem a métodos supostamente garantidos de encontrar a companhia ideal.” Mas ninguém tem como garantir uma coisa dessas. Primeiro, porque poucas experiências são tão imprevisíveis quanto relacionamentos. Segundo, porque sucesso, nessa área, pode ter muitos significados, como conforto emocional, satisfação sexual ou estabilidade financeira. Mas é fato que essa nova geração de portais é indicada para quem busca um relacionamento estável, como o gerente comercial Rodrigo Teixeira, 24 anos. “É o primeiro site desse tipo que procuro”, conta.
Para especialistas, esses modernos sites de encontro não substituirão a paquera clássica. “Até porque tem gente que ainda prefere as paixões inexplicáveis e arrebatadoras, que têm bem menos chances de acontecer em um ambiente cheio de filtros”, diz Noely. Mas há quem troque paixão por eficiência. Vale a pena?  

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