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TRAGÉDIA
Um dia depois do crime, estudantes
protestam por mais segurança
 

Pegue uma área equivalente a 440 campos de futebol, encha de árvores e deixe com pouca iluminação, mande para lá todos os dias cerca de 100 mil pessoas, a maioria de bom poder aquisitivo e, para garantir a segurança, coloque guardas desarmados. Está dada a receita para a onda de crimes que assolou a maior universidade pública brasileira nos últimos meses e chegou ao limite com o assassinato à queima roupa de um estudante na noite da quarta-feira 18. Felipe Ramos Paiva, 24 anos, morreu com um tiro na nuca no estacionamento da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), após uma suposta tentativa de assalto.

O primeiro caso de roubo seguido de morte no campus chocou a comunidade acadêmica e parou nos últimos dias a instituição que se orgulha de ser a mais prestigiada do País. “Temos um problema concreto de segurança no campus”, reconheceu diretor da FEA, Reinaldo Guerreiro. “Somos roubados constantemente, é laptop que some, câmeras, computadores.” O fraco policiamento do campus é resquício da ditadura, quando a polícia era vista como inimiga e não havia tanta insegurança. Hoje o quadro é outro. O próprio Felipe já havia sido roubado duas vezes dentro do ônibus. “Eu tinha receio, porque acompanho as notícias e vi o que estava acontecendo”, disse o pai do estudante, Ocimar Florentino de Paiva, se referindo aos cinco casos de sequestros-relâmpago registrados entre março e abril na Cidade Universitária (leia quadro). Justamente por medo da violência o aluno do quinto ano de ciências atuariais havia comprado seis meses antes seu primeiro carro, um Passat blindado ano 1998. “Ele achava que ficaria protegido com isso, mas eu dizia: ‘Você não é blindado’”, relembra o pai.

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No velório, a namorada
é consolada por parentes

Conforme testemunhas, Felipe saiu da aula por volta das 21h30, passou em um caixa eletrônico para sacar dinheiro e foi buscar o carro. Ele teria sido seguido por um rapaz. Os dois teriam discutido, lutado e, então, se ouviu o estampido. O estudante apresentava marcas no rosto e estava caído com a metade do corpo para dentro do carro, detalhes que levam a polícia a supor que ele resistiu a um assalto e tentou entrar no veículo para se proteger. O pai acredita nesta hipótese. “Ele sempre falava que não entregaria fácil o que tinha batalhado tanto para conquistar”, contou.

O reitor da USP, João Grandino Rodas, defende maior presença da Polícia Militar no campus, que hoje mantém 12 policiais e realiza duas blitze por dia no local. Atualmente a segurança é feita sobretudo por cem homens da Guarda Universitária, que não têm poder de polícia nem usam armas. A PM avisou que tem condições de reforçar o policiamento na Cidade Universitária. Mas a medida depende de aprovação do conselho gestor da universidade, representado por alunos, professores e funcionários. Os que se opõem defendem que, em vez de aumentar a presença de PMs armados, é preciso investir na prevenção, como a reforma na iluminação, a reestruturação da guarda e o maior controle nos portões de acesso. Um dia após a tragédia, a polícia divulgou retrato falado de um dos suspeitos.

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Felipe era um aluno aplicado
e se orgulhava de estudar na USP

Felipe trabalhava em uma consultoria de investimentos há três anos. “Ele era inteligente e ambicioso, mas também calmo e atencioso”, disse a namorada, Maiara Marins Lopes, 24 anos, com quem estava havia quatro anos e pretendia se casar em 2012. Apesar da dor, a mãe, Zélia Ramos Macedo de Paiva, é contra colocar mais gente armada no campus. “Causa mais violência, acredito em outros meios”, disse, durante o velório do filho. “Ele sempre se orgulhou de estudar na USP.” 

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