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EM ABERTO
Palocci alega sigilo de contrato para não informar
quem foram os clientes de sua consultoria
 

Antônio Palocci é o homem forte do governo Dilma Rousseff. Todas as nomeações de segundo e terceiro escalões passam pelo crivo do ministro da Casa Civil. As negociações com a base aliada só avançam após a sua intervenção. Os contatos com os empresários lhe foram delegados, até porque ele mantém os canais abertos com o setor produtivo desde que ocupou o Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Lula. Por determinação de Dilma, também cabe à Casa Civil fazer a triagem das demandas dos demais ministros, antes das audiências oficiais no Palácio do Planalto. Com tanto poder nas mãos, Palocci virou vidraça.

No domingo 15, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou que em quatro anos o patrimônio do ministro cresceu 20 vezes. Em 2006, ele declarou possuir bens que somavam R$ 375 mil, mas no ano passado comprou um apartamento de luxo por R$ 6,6 milhões, em apenas duas parcelas. Em 2009, já havia adquirido um escritório por R$ 882 mil. Como deputado federal, entre 2006 e 2010 Palocci recebeu R$ 974 mil. Os dois imóveis, no entanto, estão em nome da empresa de consultoria Projeto, da qual o ministro possui 99,9% do capital. Palocci não negou o aumento de seu patrimônio e na noite do próprio domingo disse que comprou os imóveis com a renda dos serviços de consultoria econômico-financeira prestados pela Projeto durante o período em que era deputado federal. “O patrimônio auferido pela consultoria foi fruto desta atividade e é compatível com as receitas realizadas nos anos de exercício”, ressaltou o ministro. Ele disse ainda que, depois das eleições do ano passado, mudou o objeto social da empresa – que hoje apenas administra os próprios imóveis – para não haver conflito de interesses com suas atividades na Casa Civil. Palocci afirmou também que todas as informações sobre a Projeto foram prestadas à Comissão de Ética Pública da Presidência, antes de sua posse no ministério. O presidente da Comissão, Sepúlveda Pertence, ratificou as explicações de Palocci. No Palácio do Planalto, as justificativas do ministro para a variação patrimonial foram consideradas satisfatórias e Palocci passou a ser defendido pelos mais próximos da presidente. “Ele é fundamental. Tem demonstrado competência e incrível empenho no apoio à presidente e na coordenação do governo”, disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, após reunião com a presidente Dilma Rousseff.

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Durante a semana passada, a multiplicação do patrimônio de Palocci continuou a rondar o Planalto. Embora pesos pesados da oposição como José Serra e Aécio Neves tenham optado pela cautela no lugar dos ataques virulentos, o PPS e o DEM tentaram convocar o ministro para explicar no Congresso a origem do dinheiro movimentado por sua empresa de consultoria. Querem que Palocci diga quais eram os seus clientes e como em pouco tempo a empresa conseguiu movimentar recursos suficientes para comprar à vista imóveis no valor de aproximadamente R$ 7,5 milhões. Saíram derrotados. O plenário da Câmara, por 266 votos a 73, derrubou o requerimento de convocação. Na noite da quinta-feira 19, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, única autoridade com competência para investigar o ministro, recebeu de Palocci novos esclarecimentos. O ministro se antecipou a uma eventual investigação na procuradoria e disse que, durante os quatro anos em que foi deputado, prestou serviços de consultoria empresarial para cerca de 20 empresas, entre elas bancos, montadoras e indústrias. Afirmou que um de seus clientes fatura R$ 350 milhões por mês. Palocci disse ainda ao procurador-geral que cerca de 70% do faturamento de sua empresa ocorreu no segundo semestre do ano passado, quando teria comunicado aos clientes que iria deixar as consultorias. Segundo o ministro, os recursos vieram com o fim dos contratos. Na sexta-feira 20, a “Folha de S. Paulo” informa que em 2010 a Projeto faturou R$ 20 milhões.

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No Brasil é permitido legalmente que um parlamentar possua empresas de consultoria desde que não transforme sua atividade parlamentar em lobby. A variação patrimonial do ministro só se tornou pública em razão de divergências políticas ocorridas no PT. Como suas decisões não têm o condão de agradar a todos, ele se torna alvo de fogo amigo. No PT, é dado como certo que a origem do ataque a Palocci é o ex-ministro José Dirceu, que não tem conseguido emplacar alguns afilhados no segundo escalão. Além disso, Dirceu também credita a Palocci a responsabilidade por denúncias recentes de que teria praticado tráfico de influência no governo Lula. Segundo as apurações feitas pelo Planalto, as informações sobre a empresa de Palocci teriam chegado à imprensa por intermédio de pessoas ligadas ao PT de São Paulo. Há ainda o fato de que setores do PT e de partidos da base aliada estariam insatisfeitos com a forma de atuar do ministro. Isso teria ficado mais evidente há cerca de duas semanas, na negociação do novo código florestal. Líderes do governo e dos partidos aliados discutiam com o relator do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB – SP), em um apartamento em Brasília, alguns pontos do projeto. Foram surpreendidos quando Palocci chegou e ditou todos os pontos que deveriam defender, sem dar o menor espaço para discussão. Até aqui Palocci tem resistido e continua superpoderoso em Brasília, o que permite prever que seus desafetos não desistirão dos ataques. Novas investidas são bem mais que prováveis.  


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