Além do pânico causado pelo terror biológico nos Estados Unidos, a comunidade internacional está atenta agora a outra assustadora ameaça: o tráfico de materiais nucleares, químicos e biológicos. A Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), sediada em Viena, Áustria, vem realizando estudos sobre o assunto desde 1999, mas a possibilidade de que terroristas ligados a Osama Bin Laden pudessem usar esses componentes transformou o tema em prioridade na pauta de discussões. O brigadeiro da reserva Hugo de Oliveira Piva faz uma advertência. “Bin Laden ou seus sucessores podem ter acesso a materiais nucleares e precisamos evitar que homens como ele tenham este poder de destruição.” Piva trabalhou no programa espacial do Iraque nos anos 70 e 80 e confessa sua preocupação com a incapacidade de os países ocidentais negociarem a paz no Oriente Médio. Em dossiê da CIA, o brigadeiro é classificado como “um dos cientistas de maior conhecimento sobre tecnologia espacial e nuclear”.

A preocupação de Piva com os riscos do tráfico de materiais sensíveis é endossada pelo físico Anselmo Paschoa, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear e professor do Departamento de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O professor Paschoa é o único brasileiro de um grupo de cientistas que estudam as bases de uma negociação com a ONU para a criação de um tratado contra o tráfico de materiais nucleares, químicos e biológicos. “Esse delito passou a ser uma das ameaças do mundo pós-Guerra Fria”, define. Trata-se do perigo de que parte do arsenal da ex-URSS, embora obsoleto para uso estratégico, possa ser contrabandeado para organizações terroristas. Paschoa destaca a participação do professor George Bunn, da Universidade de Stanford, da Califórnia, na articulação de um tratado internacional. Paschoa e Bunn participaram de uma reunião recente, no Centro de Estudos Internacionais de Stanford, que teve a presença de representantes dos Estados Unidos, China, Israel, Noruega, Romênia, Cazaquistão, Polônia e Brasil. Nesse encontro, reconheceu-se a necessidade de uma revisão do sistema de segurança dos países contra o tráfico de materiais potencialmente perigosos.

As advertências feitas pela CIA em fevereiro deste ano sobre as ações do terrorista saudita foram subestimadas pela elite política de Washington, segundo um coronel americano. “O relatório do comitê de Stanford admite a existência de grupos terroristas não só no Afeganistão, mas também no Egito, Irã, Iraque, Líbano, Líbia, Somália e Síria”, afirma Paschoa. “Há grandes riscos de fontes nucleares ilegais caírem em poder desses grupos.” Mais que isso. O professor revela que o documento do comitê confirma uma informação publicada pela revista Time de que Bin Laden tentou obter ogivas nucleares. A informação foi passada por agentes russos à revista Al-Watan al-arabi, que circula em países árabes. “O terrorista, em 1998, procurou trocar US$ 30 milhões e mais duas toneladas de ópio por ogivas nucleares”, diz o professor. Seu plano, que as autoridades americanas não sabem se ele chegou a executar, era transformar as ogivas em artefatos nucleares de pequeno porte para que pudessem ser transportados com facilidade. Algumas fontes militares dizem ainda que, no ano passado, Bin Laden pagou dois milhões de libras esterlinas para um intermediário do Cazaquistão obter uma bomba atômica de pequeno porte. Mahmmud Salim, um dos homens do estado-maior de Bin Laden, foi preso na Alemanha em 1998 quando tentava obter material nuclear.

Sobre o terror químico, o presidente da Sociedade Brasileira de Microbiologia, Claude Solari, acredita que o risco de esses materiais chegarem às mãos de terroristas também começou a se tornar possível na época do esfacelamento da antiga União Soviética, no final da década de 80. “A possibilidade de algum grupo radical burlar o controle oficial é grande”, diz ele. Infelizmente, não é mera paranóia a possibilidade de uma pessoa circular livremente com um tubo contendo agentes infecciosos ou com uma matriz de agentes que se multipliquem e causem sérios problemas à população. Para Solari, o combate a esse tipo de ameaça no Brasil pode ser facilitado em virtude de o País contar com bons especialistas na área de microbiologia.