Casamento marcado. Trabalheira para convidar os amigos, organizar a festa, escolher a roupa e selecionar o paraíso para a lua-de-mel. Sem falar na batalha para alugar o apartamento, recheá-lo de móveis e acertar os detalhes no trabalho. Pronto, a felicidade vai começar. Para muitos casais, no entanto, a fantasia começa a desmoronar logo nos primeiros anos de teto dividido. A mudança nos hábitos alimentares, a falta de disponibilidade para a prática de exercícios e até a confortável sensação de encontro da cara-metade podem trazer uma inesperada e desagradável consequência: o súbito aumento de peso. Segundo o endocrinologista carioca Walmir Coutinho, da Força Tarefa Latino-Americana da Obesidade, chegam ao seu consultório cerca de 100 casos por ano de excesso de peso associado ao casamento. “Ambos tendem a se dedicar mais às atividades domésticas, o que leva as mulheres a largar a academia e os homens, o futebol ou o tênis”, avalia.

Outros médicos também estão acostumados a receber jovens apaixonados com quilos extras. Um deles é o especialista Amélio Godoy de Mota, presidente da Sociedade de Endocrinologia do Rio de Janeiro. A primeira pergunta que ele faz a seus pacientes é sobre quando começaram a engordar. O fator número 1 de obesidade é o stress. “Em seguida, vêm o casamento e o início da carreira profissional”, enumera. Com a vida a dois, é muito comum as pessoas trocarem as noites de diversão pela televisão após o jantar. “O casal deixa de sair para dançar, por exemplo. E com uma maior estabilidade profissional, eles podem comprar automóvel e ficam cada vez mais sedentários”, completa.

A médica Vera Lemgruber, presidente da Associação de Psiquiatria do Rio, aponta outros fatores que contribuem para o ganho de peso matrimonial. “A pessoa perde a motivação para a bossa da conquista, sente-se estabilizada na relação afetiva e se acomoda”, diz. Outro motivo, segundo ela, é a mudança de rotina. “As mulheres, acostumadas às mordomias da casa paterna, passam a fazer a dupla jornada e não sobra mais tempo para a ginástica. Frustram-se, vão ao supermercado e compram comidas que engordam”, acredita.

O comerciante Altair Coutinho Pacheco, 43 anos, caiu na armadilha do casamento que engorda e viu a balança avançar de 74 para 90 quilos com a segunda união. A culpa, no caso, foi o excesso de zelo com a esposa, Marlise, 41 anos. Após três anos de casados, o que antes era um esbelto casal ganhou seu primeiro rebento (um menino). Marlise já tinha um filho e dois garotos gêmeos da primeira união e Altair, uma menina. “Ela sofria de anemia e precisou de uma alimentação especial. Era eu quem ia para a cozinha”, recorda-se o maridão. E como ambos são cheios de amigos, estavam sempre em churrascos e rodas de chope. Antes mesmo da gravidez, no entanto, os hábitos já tinham mudado. Altair fazia uma só refeição por dia. Depois, passou a tomar café da manhã, a almoçar e a jantar. “Além disso, deixei de
fazer exercícios. Minha vida era cuidar de Marlise e do bebê,
e me orgulho disso”, conta.

Marlise foi pelo mesmo caminho. “Talvez meu problema de excesso de peso tenha se acentuado pela alimentação reforçada na gravidez”, pondera. O resultado foi desastroso para sua auto-estima: pulou de 61 quilos para 86, do manequim 40 para o 48. O casal, que está junto há 13 anos, tentou recusar alguns convites para jantar, mas nunca conseguiu. “Também não tenho tempo para academia, com quatro filhos, trabalho e casa para cuidar”, lamenta Marlise. Ela tenta abrir mão dos alimentos calóricos, mas não resiste às batatas fritas dos filhos. “O que compensa é a cumplicidade. Nos sentimos cada vez mais um casal, que está lutando junto para conseguir chegar a uma vida mais saudável”, consola-se.