Tendo passado a infância em Compton, um bairro pobre e violento nos arredores de Los Angeles, as irmãs Venus e Serena Williams se encaixam com perfeição naquilo que os americanos chamam de “self-made”, ou seja, pessoas que subiram na vida através do esforço próprio e com muita perseverança. De uma infância pobre em Compton, bairro dominado por briga de gangues e paraíso dos traficantes, as irmãs Williams chegaram ao topo do tênis feminino mundial. Para se ter uma idéia, em menos de dez anos de carreira, as duas juntas já acumulam mais de US$ 17 milhões somente em premiações de torneios. Mas no domingo 14, as irmãs Williams tiveram um reencontro com o passado, e da pior maneira possível. Yetunde Price, 31 anos, irmã mais velha das tenistas, foi morta dentro de um carro, durante tiroteio em frente a uma casa que servia de abrigo para traficantes.

O local em que Price foi morta fica a menos de dois quilômetros da
quadra onde as jovens irmãs Williams deram suas primeiras raquetadas. Na segunda-feira 15, Aaron Michael Hammer foi detido por suspeita
de conexão com o crime. Rolland Wormley, que estava dentro do
carro junto com Yetunde e não foi ferido, também foi detido, pois
estava em liberdade condicional. Até sexta-feira 19, a polícia não
havia divulgado mais detalhes das circunstâncias do crime para
não atrapalhar as investigações.

“Como a mais velha das irmãs, era Yetunde quem dava estabilidade para a nossa família. Sua morte deixa um vazio que jamais será preenchido”, disseram os Williams, através de comunicado. A morte de Yetunde, que também era assessora especial de Venus e Serena, veio em um péssimo momento para ambas. Elas não entram em quadra desde que fizeram a final do tradicional torneio de Wimbledon, em julho. Serena se recupera de uma cirurgia no joelho, que lhe tirou o posto de tenista número 1 do mundo (agora ocupado pela belga Kim Clijster). E Venus está sob tratamento de contusão em um músculo do abdome.

A história das irmãs Williams é toda peculiar, já que Venus, 23 anos, e Serena, 21, foram concebidas e treinadas para se tornar verdadeiras máquinas de jogar tênis (e faturar). A figura chave na vida da família é o pai, Richard. Quando perguntado sobre como se interessou por tênis, Richard, bem-humorado, costuma responder: “Quando vi uma tenista ganhar todo aquele dinheiro, virei para minha mulher e disse: ‘Vamos ter filhos e torná-los tenistas.’” E parece que a brincadeira virou vaticínio. Obcecado pela idéia, Richard encontrou nas duas filhas talento e obstinação. Treinadas desde o berço, Venus e Serena, inclusive, largaram a escola e passaram a estudar em casa, com a mãe, para não atrapalhar os treinos. Toda a carreira das irmãs foi meticulosamente planejada por Richard. Bem ao seu estilo, o paizão ficou famoso segurando, durante os jogos das filhas, um cartaz com os dizeres: “Bem-vindos ao show das irmãs Williams”. Os detratores das irmãs costumam criticar o estilo (excessivamente físico) e a força com que jogam – Venus saca a mais de 190 km/h, mais rápido do que muitos homens.

Mas que dá certo, dá. Nos últimos sete torneios de Grand Slam (US Open, Australian Open, Wimbledon e Roland Garros, os quatro principais torneios do mundo) as irmãs Williams fizeram a final de cinco deles, sempre com vitória de Serena. Um domínio familiar nunca antes visto. Agora, as irmãs Williams terão de superar não só os problemas físicos, mas também os dramas emocionais para voltarem a brilhar.