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LÍDERES
Lupi (PDT), Temer (PMDB), Campos (PSB) e Silva (PCdoB) exigem
contra-partida do Planalto para manter apoio no Congresso

Em reunião, há pouco mais de uma semana, no Palácio do Planalto, com o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, e o vice-presidente, Michel Temer, o presidente do PMDB, senador Valdir ­Raupp (RO), deu o tom da insatisfação do partido. “Desse jeito, não temos como controlar o PMDB. E estou falando bem sério. Vocês vão ver o que vai acontecer em breve”, ameaçou Raupp. O senador reclamava da lentidão do governo no preenchimento de cargos do segundo escalão. Depois de apenas três dias, veio o troco. Em evento em Belo Horizonte, com as principais lideranças mineiras do partido, o peemedebista lançou os nomes de Temer e do governador do Rio, Sérgio Cabral, à Presidência da República em 2014. “Estamos com esses dois nomes sendo preparados. A base tem que se preparar para a guerra. Aliança (com o PT) você faz e desfaz a qualquer hora”, conclamou.

Os dois episódios são um retrato quase fiel das turbulências enfrentadas pela presidente Dilma Rousseff com sua própria base aliada. Embora a oposição esteja perdida e o governo desfrute de apoio jamais visto no Congresso, a maior dificuldade dos operadores políticos do Palácio do Planalto tem sido domar as legendas governistas. Em abril, a média de apoio ao governo nas votações na Câmara ficou em 50%, considerando todos os partidos. É muito pouco para quem tem, oficialmente, quase 80% do Congresso a seu favor. A situação tende a ficar mais complicada quando temas complexos, como as reformas, chegarem ao Congresso. O novo Código Florestal, que ameaça ser aprovado a contragosto do governo, é uma prova clara de que a base não é tão aliada assim.

O PMDB controla seis ministérios, mas ainda não teve saciada a sede por cargos na Esplanada. Reclama diariamente do avanço do PT sobre postos estratégicos de segundo e terceiro escalões, como Funasa, Territórios da Cidadania e Bolsa Fa­mília, setores considerados de grande capital político. Sobretudo a pouco mais de um ano da eleição municipal. “Para que possamos permanecer juntos até 2014, temos que ser vistos como parceiros, não como inimigos”, diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Mas a legenda de Alves, Raupp e Temer não é a única que ensaia uma rebelião com potenciais consequências eleitorais para o governo.

Desde o início da gestão Dilma, o PSB revela contrariedade com o espaço que lhe coube na máquina federal. Pleiteou quatro pastas e, a contragosto, levou duas: In­tegração Nacional e Portos. Agora, trabalha para emplacar o presidente do Banco do Nordeste. Porém, o pedido foi colocado em banho-maria e os socialistas estão enfurecidos. O governador Cid Gomes (PSB), por exemplo, não gostou nada do veto de Dilma a José Sydrião de Alencar Junior, indicado para a presidência do banco. Na última semana, passou a adotar comportamento típico de oposição. Atacou o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, por problemas nas estradas brasileiras. Enquanto isso, seu irmão e ex-deputado Ciro Gomes entabulou conversas sobre a possível criação de um novo partido. O presidente da legenda, governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deu um passo ainda mais ousado. Sob o slogan “Um novo caminho para um novo Brasil”, Campos insinuou um descolamento da aliança com o PT e apresentou-se como uma alternativa para 2014 em programas de rádio e televisão do PSB.

Por ora, o PCdoB não pensa num voo solo para o Palácio do Planalto em 2014, a exemplo dos governistas PMDB e PSB. Mas a relação com o governo também vive momentos de altos e baixos. Sem ter digerido até hoje a perda da presidência da Autoridade Pública Olímpica, o PCdoB, representado no governo pelo ministro do Esporte, Orlando Silva, aliou-se ao prefeito Gilberto Kassab (PSD). Emplacou o comunista Gilmar Tadeu Ribeiro na Secretaria de Articulações para o Mundial. Já setores do PDT, do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, além de criar problemas para o governo em votações na Câmara, como a do salário mínimo, vira e mexe flertam com Alckmin e Aécio Neves mirando nas próximas eleições. Embora esteja bem assentado , com 14 pastas sob o seu comando, o próprio PT contribui para aumentar a dor de cabeça do governo. Além da pressão constante por mais cargos no segundo e terceiro escalões, temas sociais sensíveis, como os trabalhistas, são potenciais catalisadores para rebeliões internas.

Para evitar perder de vez o controle sobre sua bancada, o governo tomou duas medidas nos últimos dias. Temendo novas retaliações no Congresso, como a que ocorreu durante apreciação do Código Florestal, o governo pagou na primeira semana de maio R$ 44 milhões em emendas parlamentares. Numa outra ponta, o ex-presidente Lula entrou em campo para fechar um acordo com o PMDB visando às eleições municipais em São Paulo. Em troca de um apoio, num eventual segundo turno, ao candidato do PT à prefeitura paulista, os petistas admitem abrir mão da cabeça de chapa em várias cidades do interior e litoral. É um caminho. Falta saber, agora, o que PT e governo irão tirar da cartola para atender aos anseios dos demais partidos aliados.

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