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INTEGRAÇÃO
Ballmer, da Microsoft, mostra como o Skype poderá ser usado com outros serviços da empresa

A Microsoft foi a primeira grande empresa monopolista da era da informação. Por muito tempo, era praticamente impossível encontrar um computador pessoal que não estivesse rodando um sistema operacional criado por Bill Gates, como o DOS ou o Windows. Cerca de 90% dos netbooks comprados nos Estados Unidos no ano passado rodam uma versão do Windows e, desde que foi lançado, em 2010, o Windows 7 vendeu em média sete licenças a cada segundo. Com um faturamento que superou a casa dos US$ 62,5 bilhões no ano passado, a Microsoft continua uma gigante, mas abandonou o posto de monopolista. Hoje vem sofrendo ataques da concorrência em todos os campos, até mesmo no segmento de sistemas operacionais, com o Linux e o Macintosh avançando a passos largos. Em alguns setores, como o de telecomunicações, a balzaquiana Microsoft ficou para trás e não disputa nem mesmo o segundo lugar com as líderes.

Na terça-feira 10, a companhia decidiu que era hora de ao menos tentar reverter essa situação. Abriu o caixa e pagou US$ 8,5 bilhões pelo Skype, o serviço de telefonia pela internet mais popular do planeta. Foi a maior aquisição da Microsoft em seus 36 anos de história e uma das tacadas mais arriscadas realizadas pela empresa para tentar se aproximar da proa do mercado de comunicação, seja ele pela internet, seja ele pela telefonia. O preço, quase quatro vezes superior ao pago pelo fundo de investimentos americano Silver Lake Partners em 2009, quando adquiriu o Skype do site de leilões online eBay, se justificaria pelo fato de a Microsoft ter conseguido também evitar que a empresa, com sede em Luxemburgo, ficasse com o Facebook ou o Google, que também queriam comprá-la. “Com o Skype a Microsoft poderá ser mais ambiciosa, fazer mais coisas”, afirmou o presidente da companhia, Steve Ballmer.

Não se sabe exatamente que coisas são essas que a Microsoft está planejando com o Skype, mas há uma certeza: vai integrar o serviço de telefonia online a uma série de produtos da companhia criada por Bill Gates. Parece óbvio que o Messenger, o serviço de mensagens instantâneas da Microsoft, terá o Skype integrado, assim como a rede Xbox Live, que reúne cerca de 35 milhões de pessoas em torno do console para video-games da empresa, o Xbox. Na prática, as possibilidades de integração surgem em quase todos os serviços que a Microsoft oferece ao consumidor final, assim como para alguns produtos para clientes corporativos, como o Lync. Além disso, a Microsoft agregou a seu portfólio um número de clientes potenciais gigantesco. São mais de 660 milhões de pessoas registradas no Skype, sendo que 145 milhões usam o serviço constantemente. Além disso, 8,8 milhões de pessoas aceitam pagar para fazer ligações via Skype para telefones fixos ou celulares. Só no ano passado, mais de 200 bilhões de minutos em conversas telefônicas foram realizados pelo serviço. O Windows Live, por sua vez, tem 500 milhões de pessoas registradas, sendo que 330 milhões usam o Messenger mensalmente e 140 milhões acessam o serviço diariamente.

Todo esse movimento de integração parece bastante claro. Mas duas questões levantam dúvidas e acirraram os debates entre especialistas do setor a respeito da aquisição da Microsoft. A primeira é saber como a empresa vai conseguir fazer dinheiro com o Skype. Lançado em 2003, o serviço nunca foi lucrativo. Apesar de ter faturado quase US$ 900 milhões no ano passado, os custos fizeram a empresa fechar 2010 com um prejuízo de US$ 7 milhões. “Vemos uma oportunidade de acelerar o faturamento e a base de lucro”, disse Ballmer na terça-feira 10.

A outra questão que vem intrigando quem acompanha a Microsoft é como a empresa vai usar o Skype em sua atual menina dos olhos, o sistema operacional para telefones celulares, o Windows Phone 7, que agora equipará os aparelhos da Nokia e da BlackBerry. Hoje o setor é dominado pela Apple, com o IPhone, e pelo Google, dono do sistema Android, que equipa quase todos os celulares que não são fabricados pela empresa de Steve Jobs. Até o ano passado, a Microsft detinha apenas 4,2% desse gigantesco e lucrativo mercado. Hoje o Skype está disponível para ambos os concorrentes da empresa. É possível fazer chamadas pelo serviço via IPhone ou celulares equipados com o Android. A grande questão é como a Microsoft vai conseguir oferecer um diferencial com o Skype em seus celulares sem entrar em conflito com as principais operadoras de telefonia dos EUA, como a Verizon e a AT&T, que não permitem que seus clientes usem o Skype quando navegam em modo 3G.

A maior aquisição da história da Microsoft ainda deve levantar muitas outras questões nos próximos meses. O negócio ainda precisa ser aprovado pelas agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa, mas tudo indica que não haverá impedimento para a aquisição. A Microsoft já afirmou que não vetará o uso do Skype por seus concorrentes, como a Apple e o Google. Além disso, deixou um recado claro para o mercado: não medirá esforços para, caso não seja monopolista, ao menos tentar manter a liderança no maior número de setores que estiver ao seu alcance.

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