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“Não vivemos mais o ciclo do estresse saudável”
Bel Cesar, psicóloga

Ele é uma ameaça silenciosa, travestido de hábitos aparentemente inofensivos, que costuma chegar sorrateiramente. Em doses controladas, não faz mal. A questão é que a avalanche de atividades diárias, os problemas e pressões em série fazem as pessoas se sentirem permanentemente ameaçadas e em estado de alerta – está aberta a porta para o estresse crônico, um dos grandes males do século XXI. Resultado de conversas entre a psicóloga Bel Cesar, o psiquiatra Sergio Klepacz e o lama budista Michel Rinpoche, “O sutil desequilíbrio do estresse”, lançado na terça-feira 10, aju­da a identificar e a buscar soluções para o estresse crônico. Aos 54 anos, 20 dedicados à prática da psicologia em consultório, Bel falou à ISTOÉ sobre esse agente desencadeador da depressão, que, em 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde, será a principal causa de incapacidade no mundo.

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ISTOÉ – Qual a importância da parceria entre psiquiatra e psicólogo no tratamento do estresse crônico?
Bel Cesar – Uma pessoa estressada é como um carro sem gasolina que quer subir uma ladeira. Nessa situação, o psiquiatra deve ser a oficina autorizada e o psicólogo, o instrutor de direção, que ensina a guiar e mostra o caminho. Só que não adianta saber dirigir e conhecer o rumo se o carro não funcionar. O carro é o estado do corpo e da mente. Mas também não resolve ter um carro bom se a pessoa não se conhece e, consequentemente, não sabe para onde seguir. Hoje estamos forçando os nossos motores. Então, na conversa que tenho com o psiquiatra Sergio Klepacz, elaboramos a importância do autoconhecimento e do equilíbrio bioquímico diante do estresse.

ISTOÉ – Como isso acontece?
Bel – Houve um aceleramento do quanto a gente vive sob a sensação da pressa. Não vivemos mais o ciclo do estresse saudável, que é partir de um ponto onde estamos equilibrados, mobilizarmos forças para enfrentar algo e depois voltarmos ao estado inicial. Quando não conseguimos retornar ao estado de calma e equilíbrio e já partimos para uma outra luta, o ciclo não se fecha. Isso é o estresse crônico.

ISTOÉ – Por que as pessoas hoje são tão estressadas?
Bel – Falta à sociedade a educação das emoções. Somos analfabetos emocionalmente. Vivemos tanto no modo automático que nem percebemos mais o que estamos fazendo com as nossas emoções. Este livro pretende mostrar como a gente consegue se conhecer e quais as necessidades do nosso corpo para que pos­­samos atendê-lo de uma forma saudável.

ISTOÉ – Como a gente tem contribuído para aumentar o estresse?
Bel – Dormindo mal, não concluindo os diversos conflitos da vida, como o fim de uma relação amorosa… A gente não se considera estressado e acha que vai dar conta. Precisamos fechar os ciclos de estresse das emoções. Vivemos por impulso, respondemos mais às demandas externas do que às internas. O mundo está bagunçado, nos trata mal, mas precisamos nos tratar mal? Se passamos por cima de nós mesmos, das nossas necessidades, uma hora é apresentada a conta. Não é um fato que gera o desequilíbrio do estresse. E não percebemos porque estamos automatizados.