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FUTURO
Vitórias com o PSD credenciam Kassab como uma peça-chave no tabuleiro da política nacional

Atende pelo apelido de “Malufinho” o principal articulador político do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Seu nome é Antonio Carlos Rizeque Malufe, advogado de 61 anos, atual secretário de relações governamentais da prefeitura. Ele anda assoberbado nas últimas semanas ajudando a criar o Partido Social Democrático, o PSD. Foi num jantar, uma “carneirada”, na casa de Malufinho, no dia 18 de março, que o prefeito comunicou a seus aliados a saída do DEM. De lá para cá, os projetos políticos de Kassab foram um sucesso só. Ele esvaziou o PSDB de seu rival, o governador Geraldo Alckmin, redesenhou a política paulista, acabou de dizimar o DEM, construiu uma alternativa a lideranças nacionais traídas nas urnas, conquistou o apoio de dois governadores, cinco vices, três senadores, 50 deputados federais e dezenas de prefeitos. O paulistano Kassab virou peça-chave no tabuleiro da política brasileira: em qualquer canto do País, hoje o PSD é chamado de “o partido de Kassab”.

Malufinho tem ajudado muito o prefeito a consolidar essa vitória. Ele é um quadro partidário experiente. Ingressou na política como assessor do ex-governador Mário Covas e, depois, foi trabalhar com José Serra, ex-candidato do PSDB à Presidência da República. Hoje está nas mãos de Malufinho a estratégica liberação de R$ 25 milhões (o dobro do que havia sido aprovado em 2010) para emendas parlamentares. A distribuição de verbas contempla 25 dos 55 vereadores eleitos. Os campeões em aprovações foram justamente os vereadores do PSDB que abandonaram o ninho tucano para caminhar em direção ao PSD. O líder dos desertores, o vereador Dalton Silvano, está no topo do ranking. Ele conseguiu, de uma só vez, R$ 1,8 milhão dos R$ 2 milhões a que todo vereador tem direito, mas que dificilmente são liberados. A 18 meses das eleições municipais é um apoio e tanto. “Não tive privilégios, trabalho em cima das emendas”, defende-se Silvano. “Saí do PSDB porque a relação estava deteriorada”. O PCdoB, outro recente aliado de Kassab, também melhorou sua sorte com as emendas. No ano passado, o partido do vereador comunista Netinho de Paula teve aprovada menos da metade de suas emendas. Agora só Netinho levou R$ 1,8 milhão, empatando com Silvano.

Essa liberação de verbas é perfeitamente legal, como também é legal a criação de novos cargos públicos que Kassab vem providenciando para acomodar os recentes parceiros. Cinco flamantes secretarias surgiram nos últimos meses. A prefeitura, que tinha 21 pastas municipais nas administrações de José Serra e Marta Suplicy, conta hoje com 31. Uma das novidades é a Secretaria de Relações Governamentais, ocupada por Malufinho. Outra é a Secretaria Especial de Articulação para o Mundial, que Kassab entregou ao PCdoB. Essa pasta se destina a acompanhar os preparativos para a Copa de 2014. Por tabela, a área esportiva ainda foi agraciada com a Secretaria de Articulações de Grandes Eventos, bolada especialmente para colher experiências da Olimpíada de Londres, em 2012, e importá-las para a capital paulista (embora, como se sabe, os jogos olímpicos no Brasil estejam programados para o Rio de Janeiro). O ex-deputado federal Walter Feldman, um dos fundadores do PSDB, que debandou os tucanos, foi nomeado para a pasta. Ele será o primeiro secretário municipal a despachar diretamente da capital britânica, onde está morando.

Outra prática utilizada, também legalmente, por Kassab para homenagear novos parceiros é a nomeação para conselhos administrativos de empresas públicas, alternativa empregada com idêntico desembaraço nas administrações estaduais e federal. Na última semana, o ex-vice-presidente da República Marco Maciel foi indicado pelo prefeito para conselho de duas companhias municipais, a São Paulo Turismo e a Companhia de Engenharia de Tráfico. Maciel, que mora no Recife (PE), receberia R$ 6 mil de cada uma delas. Mas, na quinta-feira 12, após a farta repercussão do caso, declinou do benefício. Maciel agora insiste que, ao contrário do que esperava todo o mundo político, não está trocando o DEM pelo PSD. No início do mês, Kassab já tinha nomeado outro pernambucano, o ex-senador do PPS Raul Jungmann, para o Conselho de Administração da Prodam, empresa de processamento de dados municipais. “Kassab transformou a cidade em um abrigo de desempregados de alto luxo”, acusa o líder do PT na Câmara dos Vereadores, Ítalo Cardoso. O prefeito nega. Diz que apenas trata-se de “homenagear grandes brasileiros”.

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