Encontrar jovens autores que não são xerox de seus mitos ou então que não se misturam aos que se julgam modernos e cunham um estilo tão vazio quanto suas pretensões é cada vez mais raro na literatura brasileira. O paulistano Santiago Nazarian, 26 anos, poderia ser um deles depois da breve leitura do seu currículo que indica atividades nada similares, como barman e professor de inglês, vendedor de livraria e artista de rua, incluindo performances de automutilação no centro de São Paulo. Desfeita esta curiosidade exótica da orelha do livro, entra-se no mundo verdadeiramente literário de Nazarian, que, com seu segundo romance, Olívio (Editora Talento, 140 págs., R$ 21), foi um dos três vencedores do I Prêmio Fundação Conrado Wessel de Literatura entre quase 100 inscritos. Ganhar um prêmio, sem dúvida, é um mérito. Mas bom mesmo é constatar como Santiago Nazarian cumpriu sua missão de se lançar escritor. Na verdade, Olívio é seu segundo livro, já que o primeiro, talvez por pudores, ele ainda não publicou.

Num estilo seco, de frases curtas, expressões e descrições poéticas, a incursão do autor se dá no universo underground, sempre inesgotável na sua galeria de tipos e fascinantemente perigoso para quem nem imagina que, quando o sol se põe, uma fauna particular sai para a noite exorcizando desejos e loucuras e purgando tristezas em efervescentes comemorações do nada. Olívio, o personagem-título, leva uma vida medíocre e cotidianamente regrada. Uma simples briga com a noiva desestrutura sua existência a ponto de, sem querer, ir à cata de emoções que se transformam em sensações tremendamente perturbadoras. Num curtíssimo período de tempo, ele vê todos os pilares de areia nos quais estava sustentado ruírem numa maré de acontecimentos semelhantes aos do personagem do filme Depois de horas, de Martin Scorsese. Com a diferença de que, para Olívio, a aventura a que foi arrastado significará muito mais.