Nos trabalhos do escultor austríaco radicado no Brasil Franz Weissmann o vazio sempre foi uma obsessão. Basta olhar as suas várias obras expostas em espaços públicos nas principais capitais brasileiras, como Estrutura em diagonal, no Parque da Catacumba, Rio de Janeiro, Cantoneiras, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, ou Espaço circular em cubo virtual, na Praça Afonso Arinos, em Belo Horizonte. É importante observar esse detalhe para perceber o inusitado da mostra
No fio do espaço, que acaba de ser inaugurada na galeria carioca Anna Maria Niemeyer. Nela, Weissmann testa sua obsessão de forma diferente. Ele não abre janelas ou furos nem se debate com o espaço. Simplesmente cerca os vazios com fios de aço e, assim, os constrói. É sua primeira exposição com trabalhos em fios, produzida para coincidir com seus
92 anos, completados na segunda-feira 15. “Eu não tenho tempo
para morrer”, diz ele.

Weissmann mora há 25 anos numa cobertura dúplex em Ipanema, zona sul do Rio, com bela vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Todos os
dias ele sobe e desce várias vezes a escada caracol que une o primeiro andar, onde mora, ao segundo, transformado em estúdio e repleto de maquetes de arame, alumínio, papel de cigarro, de polenguinho, fichas
de escritório. O ambiente corrobora o que o artista afirma. “Penso em trabalho o tempo inteiro, até dormindo.” A perseguição é tanta que
os pesadelos são povoados por estruturas, cubos, módulos, papelões. “Todos os trabalhos são muito sofridos, não nascem da alegria. Às
vezes, acordo de bom humor e acho que vou fazer um bom trabalho
e não faço. De mau humor eu faço”, revela.

Mas ele não é mal-humorado. Ao contrário.
É tolerante, delicado e, não raro, alegre. Weissmann vê beleza em tudo, embora acredite que o feio exista. “Feio é gente, Ele não caprichou muito nessa obra.” Com invejável vitalidade física, caminha todos os dias pela orla de Ipanema. Neste ano, realizou duas exposições e, em outubro, se prepara para outras em São Paulo e Curitiba. Como sempre, será de esculturas monumentais, ao contrário da atual, que tem dez obras pequenas: quatro relevos, quatro esculturas e duas colunas em fios de aço inox, alumínio e metal amarelo, todas construídas na oficina, em Ramos, zona norte do Rio, sob a supervisão do autor, que quer as soldas e ranhuras absolutamente perfeitas. Não por acaso, rapidamente Franz Weissmann responde como gosta de ser identificado: “Sou apenas um operário.”