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IMAGINAÇÃO
Nos shows ao ar livre, Cullum faz de conta que toca em um teatro

Aos 31 anos de idade, o cantor inglês Jamie Cullum conquistou de vez seu lugar na música mundial. Pianista virtuose, ele usa o instrumento para fazer a ponte entre o jazz sofisticado e o pop mais acessível – e, por isso, coleciona inimigos que consideram a sua atitude uma heresia contra a pureza dos dois estilos. Aos poucos Cullum foi aperfeiçoando, no entanto, a fórmula e ganhando mais público. Com aparência juvenil e a relativa pouca idade, eles soma cinco discos de estúdio e se prepara para deixar sua filha recém-nascida em Londres, de onde falou com ISTOÉ. Vem ao Brasil se apresentar no Festival Natura NÓS, em São Paulo, no sábado 21. “Estou na minha casa com uma xícara de chá e sentado no meu lugar favorito do sofá. Vamos nessa”, disse ao telefone no início dessa entrevista.

ISTOÉ – Quando decidiu misturar o jazz à música pop?
Jamie Cullum – Não tomei esse tipo de decisão porque nunca faço música conscientemente. Nunca penso como as pessoas vão ouvi-la. Eu apenas a toco por diversão. Sempre escutei jazz, pop, rock, hip-hop e música eletrônica. Então isso foi muito instintivo.

ISTOÉ – Já sofreu algum tipo de preconceito por fundir estilos?
Cullum – Sim, muitas vezes. Pop e jazz não são fáceis de andar juntos. A música pop é mais intuitiva e de fácil absorção enquanto o jazz precisa de muitas audições até que você o compreenda. É um estilo musical que tem muito a ver com liberdade, expressão e improvisação. Já o pop é como uma piada. É instantâneo.

ISTOÉ – O sr. vai se apresentar em um festival ao ar livre. Como con­segue tocar um repertório intimista nessas condições?
Cullum – Basta fingir que as pessoas estão sentadas no palco e imaginar que há uma conexão entre você e a plateia. E então fazê-la curtir cada gesto e cada nota porque é preciso se comunicar com todos e trabalhar duro aquela ilusão de ser um rock star.

ISTOÉ – Quais artistas o sr. admira atualmente?
Cullum – Eu adoraria tocar com Milton Nascimento, de quem gosto muito. E com Tom Waits. Gostaria também de me apresentar com Eric Clapton, Snoop Dogg ou Elvis Costelo.

ISTOÉ – É uma surpresa o sr. citar o rapper Snoop Dogg.
Cullum – Mas foi por meio do hip-hop que descobri o jazz. Eu escutava bastante rap quando tinha 15 anos e havia um grupo americano chamado A Tribe Called Quest que fazia samplers de muitas músicas de jazz. Foi assim que comecei a pesquisar mais a fundo esse estilo.

ISTOÉ – O sr. já veio ao Brasil antes, em 2006. Na época teve tempo para absorver algo da nossa cultura?
Cullum – Bastante. Eu fui à praia em Florianópolis e na Bahia. Fui a algumas churrascarias e comi uma ótima carne. Passei algum tempo tomando caipirinha e conhecendo os brasileiros. O Norte e o Sul do Brasil são muito diferentes, parecem países diferentes em muitos aspectos.

ISTOÉ – O que o atrai na música brasileira?
Cullum – A música brasileira tem um ótimo ritmo. A maneira de se tocar bateria é bem diferente da de outros países.

“Gosto muito de Milton Nascimento. Adoraria tocar com ele. E com Tom Waits”
Jamie Cullum