Mãe de três filhos, Kenarik Boujikian Felippe é boa observadora das salas de espera do pediatra e do dentista de seus filhos. Juíza auxiliar da 19ª Vara Criminal de São Paulo, Kenarik Boujikian Felippe recebe muitas crianças na sala de espera de testemunhas de seu gabinete – e muitas crianças que vão depor sobre maus-tratos e abusos sexuais que sofreram. Mãe e juíza aprendem uma com a outra, e foi assim que Kenarik transportou um pouco de uma sala de espera para outra. No seu gabinete há boneca da Emília, panelas de brinquedo, lousa, giz de cera, lápis de cor, bonecos de plástico, carrinhos de metal e gibis. Os brinquedos aconchegam e acalmam as crianças. Em seu próprio gabinete, se as crianças quiserem, a juíza as deixa brincar em seu computador. “Eu sou uma pessoa estranha para as crianças que vão depor e às vezes elas têm de falar de assuntos desagradáveis”, disse Kenarik a ISTOÉ. Para a procuradora do Estado Helena Rosa, nas audiências “com lápis de cor nas mãos as crianças muitas vezes desenham o que não conseguem expressar com palavras”. “Quem está agindo não é só a juíza, mas é a mulher e a mãe”, diz o promotor de Justiça Marco Antônio Ferreira Lima.