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CARREIRA
Tombini é funcionário do Banco Central e nunca atuou no mercado privado

Banqueiros e operadores do mundo financeiro se habituaram a ver no comando do Banco Central estrelas do mercado. Basta lembrar dois exemplos recentes. Quando foi convidado para comandar o BC no final do governo FHC, Armínio Fraga era homem de confiança e gestor dos fundos do bilionário George Soros. O presidente do BC do governo Lula, Henrique Meirelles, também fez o nome nos Estados Unidos e foi presidente mundial do Bank of Boston. Mas Dilma Rousseff optou por seguir outra direção. Não por acaso, escolheu para o cargo o economista Alexandre Tombini, um funcionário de carreira do BC, típico servidor público, formado pela Universidade de Brasília. Ao contrário dos antecessores, Tombini é reservado e avesso a qualquer tipo de exposição. Talvez por isso mesmo, entrou na linha de tiro das velhas raposas do sistema financeiro. Tomando a timidez de Tombini por tibieza, analistas importantes decidiram elevar suas críticas à política de combate à inflação. Passaram a afirmar que o BC perdeu autonomia e dança conforme a música tocada pelo Ministério da Fazenda.

Não há sinais, porém, de que o low profile de Tombini prejudique seu desempenho à frente do Banco Central. Por isso, em resposta ao alarido que começou a surgir em setores do mercado financeiro, economistas experientes e com passagem pela vida pública passaram a se posicionar mais abertamente como fiadores da gestão Tombini. Eles asseguram que o BC está no caminho correto para impedir a escalada da inflação, sem provocar uma freada brusca no crescimento ou “sem matar a galinha dos ovos de ouro”, na imagem do ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Tombini está mais antenado com a moderna economia e com o que acontece no mundo do que os críticos que estão por aí. Não há nenhum país no mundo combatendo a inflação com os instrumentos que o Brasil está usando”, atesta o ex-ministro Delfim Netto. No mesmo tom, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, tem repetido em seus artigos que se o BC, nas atuais condições, fosse comandado por uma “figura de proa” todo mundo estaria aplaudindo. “Mas o Banco Central de Tombini está fazendo um excelente trabalho. A diretoria é muito eficiente”, afirma Barros.

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AFINADO
Mantega e Tombini têm visão semelhante sobre a economia brasileira

Os ataques à gestão Tombini ficaram mais agudos depois da última reunião do Copom. O mercado, sempre ávido por juros altos, queria mais do que o aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, que passou para 12% ao ano. Porta-vozes do mercado também criticaram o tom do comunicado, mais longo do que o habitual. O texto informou que o atual ciclo de aperto monetário vai prosseguir pelos próximos meses, mas de forma gradual, ao contrário do que esperavam algumas instituições financeiras. O ex-presidente do BC e economista-chefe da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, alinhado com o mercado, disse que Tombini e seu time estão assumindo riscos demais e se enganando nas previsões. “Ele está dando sinais de que está satisfeito com a atual trajetória da economia baseado num cenário complicado.” Menos contundente, o ex-diretor do BC e economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, disse à ISTOÉ que “a decisão do Copom foi correta, mas há um problema de comunicação”. A penúltima nota do Copom, diz ele, dava a entender que o ciclo de alta de juros seria brusco, mas iria terminar rapidamente. Já a nota da última reunião passa a ideia de que o combate à inflação será de longa e sofrida duração. Isso explicaria o mau humor do mercado financeiro.

Diante das reações negativas, Freitas Gomes sugere que Tombini se exponha mais. E cita o exemplo do presidente do FED americano, Ben Bernanke, que, na semana passada, quebrou 97 anos de tradição, ao dar uma longa entrevista depois da decisão de manter a taxa de juros anual abaixo de 0,25%. No Brasil, os presidentes do BC também não falam publicamente entre a decisão do Copom e a divulgação da ata da reunião – embora vários deles tenham abusado da prática de passar discretamente ao mercado os sinais de suas intenções. No caso de Tombini, o costume do silêncio obsequioso vem a calhar. O presidente do BC não gosta mesmo de holofotes. De hábitos frugais, mora num apartamento confortável na Asa Sul de Brasília com a mulher, a americana Michele Ann Todd, e dois filhos: um menino de 9 anos, que convence Tombini a pôr as chuteiras e recordar sua paixão pelo futebol, e a primogênita de 13 anos. Durante a semana, Tombini cumpre a agenda à risca, chegando ao BC antes das 9h e saindo por volta das 20h. Após o expediente não tira o sono dos subordinados com mensagens pelo celular e nos fins de semana dedica-se à família e às vezes joga tênis com os amigos, além de acompanhar as partidas do Internacional.

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DECISÃO
No comando do Copom, doses homeopáticas contra a inflação

Tombini e Mantega estão confiantes nas medidas de combate à inflação. E tudo indica que a Fazenda tem sido influenciada pelo Banco Central. Afinal, Tombini é o pai do sistema de metas de inflação e sabe onde está pisando. Ele costuma dizer que tem “paciência, discernimento e determinação”. E é justamente o que mostra diante do conturbado cenário internacional, sacudido pelo aumento das commodities e pelo intenso fluxo financeiro, que Mantega chama de “tsunami de capital externo”. Se no passado a Fazenda e o BC batiam cabeça, hoje falam a mesma língua. O tempo dirá se estão certos. 

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