Uma história inventada para divertir três crianças no final do século XIX se transformou na primeira ficção escrita pelo professor britânico de lógica e matemática Charles Lutwidge Dodson, conhecido como Lewis Carrol (1832-1898) e lhe concedeu o título de fundador do surrealismo na Inglaterra vitoriana. “Alice no País das Maravilhas”, a mágica fábula da menina que se perde pelos labirintos da própria imaginação, foi criada especialmente para a garota Alice Liddel, então com 10 anos, e que é a homenageada do título.

Essa despretensiosa peregrinação infantil já foi traduzida em 50 idiomas ao longo de quase 150 anos. Agora ganha novo fôlego com a aguardada versão cinematográfica dirigida por Tim Burton, com a estreante australiana Mia Wasikowska, 20 anos, no papel principal, e o astro Johnny Depp como o chapeleiro maluco.

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FILME E LIVRO
A atriz Mia Wasikowska estréia em um difícil papel: tem de agradar a crianças e adultos. Abaixo, a nova edição da obra
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O cineasta, com sua estética fantástica, sombria e mórbida, e com o seu humor nonsense, parece bastante apropriado para contar essa história instigante (que, se diverte, também angustia) de “bichos, sonhos e anarquias” como a define o próprio Lewis Caroll já no prefácio de seu livro. “As histórias de Alice são como drogas para menores”, diz um corajoso Burton.

Não bastasse a superprodução prevista para estrear em março do ano que vem, ainda há uma bem cuidada edição do livro que acaba de ser lançada (Editora Cosac Naify), com ilustrações vibrantes e psicodélicas de Luiz Zerbini e posfácio do historiador Nicolau Sevcenko. Uma das versões é especial para colecionadores e imita uma caixa de baralho.

O que explica a atualidade da personagem? Na definição de Sevcenko, temos uma pista: “Alice é uma figura rebelde, que enfrenta, cheia de espanto e indignação, as criaturas presunçosas, mal-humoradas e falastronas do Mundo das
Maravilhas. Atrás de cada uma delas está um tipo de instituição vitoriana que Lewis satiriza e Alice desacata, para diversão e desforra dos leitores.”

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INSPIRAÇÃO Lewis Caroll criou a personagem em homenagem à garota Alice Liddel

 Esse espírito de contestação também inspirou um grupo de artistas franceses de vanguarda a criar a mostra “Um Mundo sem Medidas”, em cartaz no Museu de Arte Contemporânea, da Universidade de São Paulo.

Organizada pela curadora francesa Valérie Marchi, a exposição reúne o trabalho de dez
artistas plásticos contemporâneos com esculturas, fotografias, pinturas, desenhos e projeções que exploram as noções de espaço, tempo e dimensões inspirados no universo lúdico e onírico de Alice.

A intenção é proporcionar a adultos uma viagem sensorial pelo espaço e pelo tempo através de efeitos multimídia e ilusões de ótica. É a “Alice no País das Maravilhas” do século XXI.

NO MUNDO DE ALICE
Exposição de arte explora o universo lúdico da personagem

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Um dos principais destaques da exposição “Um Mundo sem Medidas”, em São Paulo, o artista francês Jean-François Fourtou criou cenários desproporcionais que remetem a situações vividas por Alice em suas histórias, quando ela se torna tão pequena que perde a possibilidade de interagir com o ambiente ou se coloca numa situação de vulnerabilidade extrema (foto à dir.).

Outro expoente da vanguarda francesa, o fotógrafo Gilbert Garcir, também está presente: exibe a sua coleção de fotos surrealistas baseando-se na abstrata “Alice Através do Espelho”.

Clique aqui para ler o 1º Capítulo do Livro de Alice no País das Maravilhas

 Exposição Alice


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