Não basta à mulher de César ser honesta, ela tem que parecer honesta, prega a velha máxima. Caso contrário, cai na boca da mídia, do povo, e, sem um bom plano gerenciador para contornar uma crise de imagem, bye bye ao maior patrimônio que uma pessoa pública (ou privada) pode ter: a reputação. A era do escândalo, do jornalista Mário Rosa, que chega às livrarias pela Geração Editorial, passa em revista um variado conjunto de experiências pessoais de quem viveu grandes crises deste tipo, mostra como conseguiram sair delas e ainda dá dicas de como proceder em situações em que a saia aperta ao ponto de pôr em risco uma instituição, uma personalidade e até mesmo uma celebridade. O livro, que reúne dez casos de grande repercussão – a queda do vôo 402 da TAM, o drama da atriz Glória Pires, atingida em cheio pela indústria da fofoca e o afundamento da P-36, entre outros – é uma espécie de manual de como preservar a imagem e a reputação numa era que Mário Rosa classifica usando o mesmo título de sua obra.

Trabalhando hoje em sociedade com o publicitário Duda Mendonça como consultor de imagem, Mário Rosa adverte que escândalos sempre existirão, mas hoje elementos específicos do mundo moderno acabaram por criar uma nova era. “A dimensão e o seu impacto devastador transformam-se numa marca exclusiva dos nossos tempos”, ressalta o autor, que atribui o impacto profundo do escândalo sobre políticos, empresários, marcas e até celebridades a diversas causas. Segundo ele, o avanço da tecnologia tornou cada vez mais tênue a fronteira entre as esferas pública e privada. Ele lembra o telefonema do príncipe Charles para a amante Camilla Parker. A conversa foi grampeada e difundida mundialmente. “A noção entre público e privado sofreu grande transformação. Uma conversa privada, a dois, é algo mais público do que um evento com centenas de pessoas”. Uma outra causa da era do escândalo é a revolução tecnológica das duas últimas décadas. Uma informação é capaz de varrer o mundo em poucos segundos e alcançar uma dimensão arrasadora, principalmente quando ela está relacionada à imagem ou reputação de uma empresa ou de um líder.

Rosa ressalta que o livro tem a pretensão de desmistificar a figura do gerenciador de crise,
mas ao mesmo tempo valorizar a importância do gerenciamento de crises. Não precisa ser mago ou guru para enfrentar com sucesso uma turbulência
de imagem. “Por isso fiz questão de pôr médico, advogado, engenheiro e até atriz como protagonistas. O que quis mostrar é que todos os profissionais podem estar preparados para enfrentar com sucesso situações de crise se compartilharem de noções básicas e princípios de gerenciamento.” A era do escândalo sistematiza e analisa os padrões de desafios e impasses
de algumas das maiores crises de imagem do Brasil. O conhecimento daqueles que conduziram eventos desgastantes foram transformados
em ensinamentos para os que se interessam pelo tema.

A queda do vôo 402, que durou apenas 25 segundos, e o relato, por carta, da atriz Glória Pires e seu marido, o cantor Orlando Moraes, vítimas da indústria do boato e da fofoca tornam-se leitura obrigatória não somente pelas lições ali encontradas, mas também por revelações inéditas. Só a TAM, a Fokker e mais tarde o DAC souberam que quando a temperatura ficava abaixo de 21 graus o sistema falhava e a pane que derrubou o jato ocorria. Os termômetros marcavam 20 graus em São Paulo na hora em que o avião explodiu sobre casas da Vila Santa Catarina, no Jabaquara. A peça responsável pela abertura do reverso e, consequentemente pelo acidente que matou 99 pessoas, custava US$ 5.