"O caráter revolucionário de um partido pode ser julgado, em primeiro lugar, pela sua capacidade de atrair a juventude da classe trabalhadora para suas bandeiras. O atributo básico da juventude socialista – e tenho em mente a juventude genuína e não os velhos de 20 anos – reside na sua disposição para entregar-se total e completamente à causa socialista.” Essas palavras, ditas por Leon Trotsky em uma carta à Conferência da Liga da Juventude Socialista em julho de 1938, expressam a importância que o ídolo socialista dava aos adolescentes na busca pela revolução. Ele próprio foi um jovem engajado: aos 17 anos, começou sua militância na construção do partido bolchevique. Mais de 60 anos depois e muitas mudanças ideológicas no mundo, as idéias radicais ainda contagiam jovens que nem à maioridade chegaram. Embalado pela paixão revolucionária, o carioca Alexandre de Donato, 14 anos, tentou fugir do País no mês passado para se juntar às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs). Só não chegou lá porque foi detido pela Polícia Federal na Amazônia. Alexandre conheceu as Farcs pela internet. “Depois que sofreu um assalto, ele ficou com raiva da violência e só falava em socialismo”, conta o amigo Bruno. Desde então, Alexandre começou a ler sobre Nietzche e Marx, mas não teve tempo de se informar sobre as relações das Farcs com o narcotráfico. “Meu filho é um idealista, não sabia o que estava fazendo”, perdoa a mãe, Catarina Paccagnella.

“Fora FMI” – Com os mesmos sonhos, embora mais letrada nas teorias socialistas, a estudante Lívia da Silva Maia, 15 anos, também quer “derrubar o capitalismo”. Moradora de São João do Meriti, na Baixada Fluminense, ela diz que “o único caminho para um governo dos trabalhadores é a revolução”. Lívia participa de plenárias do movimento Ruptura Socialista, ligado ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). “Nosso objetivo é derrotar a burguesia e o FMI. O ideal seria algo parecido com a Revolução Cubana”, afirma, saudosa de um tempo que não viveu. Os cursos dados pelo partido são a base de seu pensamento político. “Através das teses de Marx, Trotsky e Lênin, comparamos o passado com a atualidade”, explica ela, que se interessou por política nas aulas de história. Sua mãe foi filiada ao PT, que a jovem vê com decepção. Fã de Karl Marx, ela confessa que ainda não leu O capital, mas adorou o Manifesto comunista.

Companheiro de partido de Lívia, o estudante Wiliam de Almeida
Côrbo, 14 anos, morador da Tijuca (zona norte do Rio de Janeiro), é
outro que sonha com “a vitória do proletariado”. O fato de seu pai ser filiado ao PSTU ajudou. “Sempre gostei de política”, diz o admirador de Trotsky. “Ele defendeu até o fim suas idéias, mesmo sendo perseguido
por Stálin. Foi um cara demais!”, entusiasma-se. A moderação do
governo Lula não causa surpresa a esses socialistas mirins. “Pelas alianças feitas, eu já esperava isso que está aí”, desdenha Wiliam.
Lívia diz que só não imaginava que “os ataques contra os trabalhadores viessem tão rápido”. Para ela, a “democracia burguesa” não vai mudar
o País. Embora torça pela adesão de mais adolescentes à causa, Lívia define a atitude do jovem que tentou fugir para a Colômbia como
“um ato de quem desconhece a verdade sobre as Farcs” por causa
da ligação com as drogas, uma suspeita que Wiliam atribui a uma campanha de desmoralização movida pela burguesia. “A burguesia
tenta desmoralizar todos os movimentos sociais, como o MST”,
compara, defendendo as invasões de terra.

O estudante paulista Diogo Gomes Amado, 17 anos, é outro
simpatizante das idéias radicais. Desde os 13 se interessa pelo
socialismo. “Meus pais não são militantes, fui atrás sozinho”,
diz o leitor de Marx e do trotskista argentino Nahuel Moreno. “O
Brasil ideal passa pela ruptura com o imperialismo e a suspensão
do pagamento da dívida, além de não participar da Alca”, prega
Diogo, chamando Lula de “traidor da classe trabalhadora”. Defensor
da luta armada – “só assim a classe trabalhadora vencerá o sistema burguês” –, ele afirma que, se necessário, pegaria em armas.

Saudosismo – A combatividade da nova geração de Guevaras enche de orgulho veteranos como Dinarco Reis Filho, 71 anos, do Comitê Central do velho Partido Comunista Brasileiro (PCB). “Muitas vezes, eles são muito afoitos, mas é típico da idade. Quando comecei, pensava que a revolução viria em cinco anos e até hoje, nada”, brinca. Na luta desde os 16 anos, Dinarco afirma que a adesão dos jovens é o único caminho para os partidos de esquerda: “A árvore está dando frutos.” Pela distância entre o tempo de seus ídolos e suas pregações atuais, jovens como Wiliam, Diogo e Lívia são vistos como ultrapassados e viram alvo de brincadeiras. “Meus amigos falam para eu curtir a vida, que estou fora do meu tempo, mas ignoro”, menospreza Wiliam. Revivendo a velha frase que afirmava que a esquerda só se une na cadeia, as críticas são guardadas para os jovens petistas. “Eles gostam de dizer que vamos destruir o País, mas quem vai fazer isso é o capitalismo. Nós queremos acabar com esse sistema, que só traz miséria e desemprego”, ataca Lívia, ressaltando que nunca deixou de se divertir com as amigas por causa da militância. “Continuo com a minha natação, meu futebol e minhas festas”, diz Wiliam. O sonho destes pequenos Ches, parafraseando Marx, é: “Adolescentes de todo o mundo, uni-vos.” Ulalá.