Quando um ministro ou um parlamentar reclama por não ter sido recebido ainda pela presidente Dilma Rousseff, os assessores do gabinete presidencial no Palácio do Planalto brincam: “Pegue a senha.” De cara, pelo fato de ser mulher, Dilma acabou com o “grupo da maçaneta”, como ficaram conhecidos os políticos autorizados, no governo anterior, a entrar sem precisar bater à porta. Com isso, a quantidade de pedidos de audiência só aumentou e são poucos os que têm acesso quase diário ao gabinete, como o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci. Alguns integrantes do primeiro escalão federal até hoje nem sequer tiveram a oportunidade de conhecer o novo ambiente de trabalho presidencial, alimentando a versão, cada vez mais ressonante no Palácio do Planalto, de que já estariam com os dias de ministro contados. Compõem a equipe dos desprestigiados os ministros Pedro Novais, do Turismo; Moreira Franco, de Assuntos Extraordinários; Mário Negromonte, das Cidades; e Wagner Rossi, da Agricultura. “Eu vou esperar que ela me chame, mas não acho nada de anormal”, minimiza Moreira Franco.

Publicamente, Moreira tenta jogar água na fogueira de intrigas. No entanto, quando assumiu o cargo, chancelado pelo PMDB, o ministro já imaginava as dificuldades em administrar uma pasta inexpressiva e sem orçamento. “Está me dando os parabéns por quê? É alguma brincadeira?”, disse a um interlocutor que o felicitou pela nomeação. Outro ministro da cota do PMDB, Novais alega não ter pedido audiência com a presidente ainda. Mas acendeu a luz vermelha de alerta. Recentemente foi devidamente avisado que está na geladeira de Dilma como consequência ainda do escândalo do uso da verba parlamentar para custear despesas em um motel de São Luís (MA). O ministro das Cidades, Mário Negromonte, bancado pelo PP, também está sem prestígio no Palácio do Planalto. Não bastasse não ter sido recebido ainda por Dilma – apenas a encontrou no avião presidencial durante duas viagens –, Negromonte até agora não conseguiu autorização para nomear dois velhos aliados: o deputado estadual Carlos Batinga (PSC-PB) e o ex-deputado Inaldo Leitão (PP-PB). Rossi, da Agricultura, é o único do grupo dos sem-audiência em condições de dormir tranquilo. Seu padrinho é nada mais nada menos do que o vice-presidente, Michel Temer.

Dilma Rousseff passou a fazer uma triagem sobre as solicitações de audiências a partir da conclusão de que a agenda diária espelha a imagem do governo. Um auxiliar da presidente reconhece ser “natural” que alguns integrantes do Ministério transitem com mais desenvoltura. “É normal que ela tenha mais afinidade com quem escolheu e já trabalhou no governo anterior”, disse. Mas, segundo a mesma fonte, o fato de Dilma preterir um em favor de outro integrante do primeiro escalão não significa desleixo com determinadas áreas.

Na primeira reunião ministerial da nova gestão, Dilma reuniu seus 37 auxiliares diretos, dividiu o governo em quatro áreas estratégicas e delegou a quatro ministros a responsabilidade pela coordenação do trabalho de outros colegas. Na visão da presidente, com a formação dos núcleos não há necessidade de receber todos os ministros. É um consolo, mas não aplaca a ansiedade dos deserdados que aguardam, enfim, por uma audiência com a presidente.

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