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INÉRCIA
Fidel passa a chefia do Partido Comunista de Cuba a seu irmão, Raúl

Desde que se afastou do poder em 2006 para tratar da saúde, Fidel Castro resistia a abrir mão do posto de primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC). Embora o ditador já não participasse do dia a dia político da ilha, a fixação do seu nome no mais alto cargo do governo era uma forma de manter acesa a chama da Revolução entre os cubanos. Só que a realidade bateu à porta e as limitações físicas devido à doença e a idade avançada, 84 anos, falaram mais alto. Na segunda-feira 18, Fidel apresentou oficialmente sua renúncia, cedendo o lugar ao irmão Raúl Castro, que vinha exercendo o poder na prática. Em artigo publicado no site “Cuba Debate”, Fidel admitiu que nem sequer vai fazer parte do Comitê Central, o que significa o adeus definitivo à política cubana. “Não poderia exercer funções mesmo tendo recuperado consideravelmente minha capacidade de analisar e escrever”, disse. O ex-presidente cubano pouco aparece em público e, ao participar do Congresso do PCC, demonstrou dificuldades para caminhar e precisou de ajuda para se sentar na tribuna do Congresso ao lado de Raúl.

Embora ansiada dentro e fora de Cuba, a saída de cena de Fidel pouco representa em termos de mudança real do sistema. A eleição de Raúl e de seu vice, José Ramón Machado Ventura, demonstra que o regime seguirá nas mãos de políticos de linha-dura. A redução de 24 para 15 membros no Comitê Central e a entrada de apenas três novos integrantes reforçam a tese da centralização. “Hoje enfrentamos as consequências de não contar com uma reserva de substitutos devidamente preparados”, admitiu Raúl em discurso na abertura do 6º Congresso do PCC.

Dessa forma, soou como mea-culpa a proposta de Raúl de limitar a dois mandatos a ocupação de cargos públicos. “É uma medida cínica. Dentro de cinco anos, muitos dos políticos históricos terão morrido”, avalia o sociólogo cubano Haroldo Dilla Alfonso, que vive na República Dominicana e dirigiu o Centro de Estudos sobre América Latina e Caribe, em Havana. Do Congresso do PCC, saiu também um plano de reformas econômicas inspirado nos modelos chinês e vietnamita. São mais de 300 medidas de abertura ao setor privado, corte de empregos, redução dos subsídios e liberação do comércio de imóveis e veículos. “Na atualização do modelo econômico primará o planejamento, que levará em conta as tendências do mercado”, diz o plano. Tendências que Fidel Castro tanto evitou.

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