Coisa bonita/coisa gostosa/quem foi que disse que
tem que ser magra pra ser formosa.” Rara ode ao sobrepeso, a canção Coisa bonita, do rei Roberto Carlos, ficou famosa ao fazer a alegria das gordinhas em 1993, no disco O velho caminhoneiro. Exatamente dez anos depois, a filha do atual ministro da cultura, Preta Gil – uma gordinha assumida –, chocou o País ao posar nua para o encarte de seu primeiro álbum, o Prêt-à-porter. O motivo do espanto, claro, é a sua própria condição de gordinha que, no último domingo, 31, rendeu um desabafo em rede nacional. “Cansei de tentar ser magra, não consigo. Gosto de Coca-Cola, e de comer. Vivia de dietas, cada hora era uma diferente, depois engordava tudo de novo”, declarou a cantora durante o Domingão do Faustão. O fato é que, depois de muito regime e algumas lipoaspirações, Preta Gil, como tantas outras cheinhas (de charme e de curvas), está de bem com a vida.

Para o cartunista Laerte, as formas de Preta são tão sensuais que é compreensível que ele se esqueça de ouvir as músicas diante da foto do encarte: “Achei lindo. Gosto das gordinhas – e das magras também. O que vale é a beleza de quem se sente bonito”, diz. De fato, segundo o psicólogo Raphael Cangelli Filho, coordenador do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo, o importante é sentir-se e estar bem. “A maioria das mulheres acha que o padrão Gisele Bündchen é o ideal, mas isso não é verdade. É resquício da ditadura da magreza dos anos 60, quando o ícone de beleza era a modelo Twiggy, que sofria de anorexia”, diz o especialista.
Chamada de “gordinha sexy” no início da carreira, a cantora Fafá
de Belém é um exemplo de quem já sofreu muito para atingir padrões rigorosos de beleza, mas hoje lida muito bem com suas medidas. “Depois de fazer 800 regimes e desmaiar na rua de tanto ouvir que precisava emagrecer, cansei de lutar contra mim mesma. Na adolescência, adotei as roupas do cinema, à la anos 40, decotadas e acinturadas”, conta
a cantora. E lança um elogio a Preta Gil: “Ela soube capitalizar seus quilinhos a mais melhor do que eu. Quando comecei a fazer sucesso,
os artigos se referiam a mim como a ‘gordinha sexy’. Eu nunca sabia
se ria ou chorava. A Preta não, em seu primeiro disco tratou de lucrar com o corpo que tem.”

Depois da morte do pai, Fafá engordou 20 kg e se submeteu a uma lipoaspiração. Hoje, cinco anos depois, procura manter seu peso na faixa dos 70 a 75 kg. “Este é o meu padrão. Sou grande, brasileira e tenho curvas”, sintetiza a musa. De acordo com os padrões adotados pela Organização Mundial da Saúde, Fafá está em perfeita forma física. O índice de massa corpórea (IMC) de uma pessoa saudável é calculado a partir da seguinte fórmula: peso dividido pelo quadrado da altura, que no caso de Fafá (1,68 m e 70 kg) é igual a 25, o limite exato entre o padrão normal e o sobrepeso. “IMCs de 25 a 30 são considerados acima do normal, mas não apresentam risco à saúde. O problema, ou seja, a obesidade, começa nos casos de IMCs acima de 30”, explica Cangelli Filho.

Mas, apesar de se dizerem felizes com o corpo que têm, não são todas as gordinhas sensuais que, como Fafá, revelam seu peso com tranquilidade. A apresentadora Silvia Popovic, por exemplo, acha que o peso não importa por não ter relação direta com a felicidade. “Lembro de pesar 70 kg e não ser bem-resolvida e de estar muito mais feliz pesando 80 kg”, compara. “Acho vulgar as mulheres que de costas parecem meninas de 18 anos e, quando se viram, ostentam um rosto de 50. É constrangedor”, completa a apresentadora. A atriz Eliana Fonseca, outra gordinha assumida e assumidamente feliz, também não está nem aí para os padrões de magreza. Pelo contrário, até satiriza. “Folheando uma revista de nus dos anos 20, vi que cada mulher tinha
seu estilo, seu corpo. Agora olhe uma Playboy: é tudo igual, basta recortar e trocar o rosto”, diz. Filha e neta de gordinhas, Eliana nunca entrou em crise por causa do excesso de peso. “Sempre me senti gostosa. Assim generose, cheia de curvas”, conta a atriz. A boa auto-estima, entretanto, não a impede de desejar outro futuro para sua
filha, hoje com cinco anos. “Odiaria que ela fosse gorda. Eu aprendi
a me curtir, mas os tempos são outros. Ser gordo é quase um crime. Como se todos os gordos fossem preguiçosos, sem força de vontade
para emagrecer”. Abaixo a ditadura!