Os consumidores de queijo minas frescal – um dos preferidos dos brasileiros – foram surpreendidos, recentemente, por uma notícia nada saborosa. Uma pesquisa divulgada pela Associação Pro Teste, uma entidade de defesa do consumidor, colocou sob suspeita a qualidade desse alimento. Foram avaliadas 15 amostras de alguns dos queijos mais vendidos. Delas, 12 apresentavam condições ruins de consumo, de acordo com os padrões da instituição. A conclusão, é claro, assustou os compradores. Afinal, que tipo de queijo está ocupando lugar na mesa?

A resposta não é simples. Três dos 12 queijos com qualidade ruim, segundo a Pro Teste, por exemplo, cumprem as determinações da lei. “Tirolez, Quatá e Keijobon não contêm microorganismos causadores de doenças, como manda a legislação”, afirma Cícero Hegg, diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq). Por outro lado, porém, esses produtos apresentaram bolores, leveduras e coliformes totais (grupo de bactérias que pode estar presente no ar, no solo, na água e nas fezes). “Esses agentes dificilmente fazem mal à saúde, mas indicam que houve algum problema no processo de fabricação ou conservação dos alimentos”, diz o sanitarista Alexandre Momesso, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. “A Pro Teste deveria questionar a legislação e não os produtores, pois eles estão seguindo a lei”, comenta.

O estudo da Pro Teste, no entanto, apontou produtos que nem sequer obedeciam as normas. É o caso da marca Roseli. O queijo apresentou altos índices de coliforme fecal e da bactéria Staphylococcus aureus, responsável por intoxicação alimentar. Esses mesmos microorganismos e a bactéria Escherichia coli – que pode provocar cólica e diarréia – também foram detectados em queijos a granel (fatiados e embalados no local) de várias marcas vendidos em grandes supermercados de São Paulo.

Na verdade, a ocorrência desse tipo de problema não surpreende os especialistas. Produzir um queijo impecável é uma das artes mais difíceis da culinária industrial. Erros podem ocorrer já na retirada da matéria-prima. Além disso, o leite é um alimento muito sensível às variações de temperatura. Qualquer deslize pode torná-lo um caldo atraente para o crescimento de bactérias. Há ainda a probabilidade de tropeços na conservação (graus fora do permitido na geladeira fornecem as condições ideais para microorganismos se proliferarem). E o pior é que raramente se sabe onde foi que o queijo desandou. Essa complicação é uma das defesas usadas pelos produtores. A Roseli, por exemplo, alega que seus queijos estavam conservados de forma inadequada.

Diante da confusão, o ideal é tomar alguns cuidados para encontrar as melhores opções. Outra boa notícia é que as empresas envolvidas na fabricação e venda dos queijos se mobilizam para aprimorar a qualidade. A Associação Paulista de Supermercados e a Abiq intensificarão o treinamento dos profissionais que manipulam o alimento. Enquanto isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o Ministério da Agricultura prometem investigar as condições dos produtos – os resultados da Pro Teste foram encaminhados aos dois órgãos – e as vigilâncias sanitárias estaduais estão recolhendo amostras de várias marcas para avaliação. Certamente, depois de todo esse movimento, o consumidor terá mais certeza do que está ingerindo.