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DESTINO
As salas onde as crianças foram mortas serão transformadas
em laboratório de informática e espaço de leitura

Do fundo do crepúsculo,
O vento tombou como uma ave ferida […]
Bateu, raivoso, as possantes asas, rodopiou exasperado
entre as frondes em pânico.
E miraculosamente recompondo o perdido equilíbrio, em brusco, violento arranco ergueu voo outra vez para o espaço sem fim…
(Contemplação do Eterno)

 

O poema acima, de Tasso da Silveira (1895-1968), foi escrito em 1952 e fala de uma força que quase é derrubada, mas se refaz e voa de novo. Pode ser que o escritor curitibano, que dá nome à escola de Realengo na qual ocorreu o massacre, seja uma das inspirações para o futuro do colégio e do próprio bairro, na zona oeste do Rio de Janeiro. A recomposição milagrosa é hoje o objetivo de todos – até para não colaborar com o intuito do assassino de destruir a escola e os sonhos dos estudantes. O caminho de reconstrução passa por etapas. As aulas serão retomadas aos poucos, a partir da segunda-feira 18. Voltam, primeiro, os alunos do 9º ano, que não tiveram contato direto com o atirador. O restante, em até três semanas, num processo de reabilitação que será acompanhado por psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e terapeutas que trabalham com atividades lúdicas.

As homenagens às vítimas – coroas de flores, cartazes – foram retiradas da frente da instituição e o muro foi pintado de branco. Mas é dentro da instituição que está o maior desafio. A parede que separava as duas salas nas quais ocorreu o massacre foi derrubada. No lugar dela, uma porta de correr vai separar um novo laboratório de informática (que também funcionará como cineclube) de uma sala de leitura. O espaço restante deverá virar uma sala para crianças portadoras de necessidades especiais. Um dos corredores do prédio, por onde os alunos correram tentando fugir do atirador, será pintado e ganhará um belo aquário. “Nosso maior desafio é fazer com que as crianças que passaram por esse sofrimento voltem a ver a escola como espaço de felicidade e construção”, diz a secretária municipal de Educação, Cláudia Costin. O atendimento a alunos e professores que viveram o terror imposto por Wellington teve início já no dia seguinte ao massacre. Um grupo de 25 psicólogos e psiquiatras percorreu as casas da vizinhança e um plantão de atendimento foi montado dentro da escola.

Consultor do FBI, a polícia federal americana, o psiquiatra Frank Ochberg, que orientou a direção de Columbine no processo de pós-trauma e acompanhou os esforços da universidade Virginia Tech, disse a ISTOÉ que o mais importante neste momento é restaurar a sensação de normalidade entre as crianças. Sobre as modificações na instituição, ele diz que ajuda alguns alunos, mas não todos. É o caso das irmãs de Milena dos Santos Nascimento, 14 anos, que morreu na tragédia. Helena, 12 anos, e Tainá, 15, não se sentem em condições de voltar. Elas também estavam na escola no dia do massacre, mas escaparam ilesas. Alguns pais já pediram a transferência dos filhos para outros colégios. A maioria dos moradores da região, entretanto, torce para que a escola continue em pé e siga o poema de Tasso da Silveira: erga voo para o futuro.

 

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LIÇÕES DE COLUMBINE

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VOZ
solidariedade de Columbine com o Rio

Depois de um massacre no qual 13 alunos e um professor morreram, em 1999, a escola Columbine, nos Estados Unidos, foi fechada por quatro meses. Nesse período, os estudantes concluíram o ano letivo em outras instituições. Quando reabriu, a maior diferença era a questão da segurança. Dezesseis novas câmeras, cinco seguranças armados de prontidão por um mês pelo menos e a obrigatoriedade do uso de crachás de identificação para alunos e corpo docente. Dois locais que foram cenário da maior parte do massacre tiveram destinos diferentes: a cantina foi substituída por outra e a biblioteca foi demolida. “Os familiares das vítimas e a comunidade arrecadaram dinheiro e construíram uma nova”, disse Melissa Reeves, relações-públicas das escolas do condado de Jefferson, no Colorado. Já na universidade Virginia Tech, também nos EUA, onde um estudante matou 32 alunos em abril de 2007, o prédio da tragédia virou um centro para estudos da paz e prevenção da violência e foi construído um memorial às vítimas. A segurança foi igualmente reforçada.


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