Um carro passa na avenida Atlântica, em Copacabana, e sua placa é captada por uma câmera ligada ao 19º Batalhão da Polícia Militar. O código alfanumérico é imediatamente identificado e checado por um computador, que verifica se o veículo foi roubado. A resposta positiva é dada em segundos. Alguns metros à frente, numa blitz, os policiais prendem o motorista e apreendem o carro. A sequência de filme futurista pode virar cena corriqueira caso o aparato tecnológico que vem sendo testado pela polícia do Rio de Janeiro seja aprovado. Desde o início de agosto, o batalhão de Copacabana serve de laboratório para um projeto de monitoramento por câmeras espalhadas pelo bairro. É um equipamento de última geração, com poder de aproximação de 300 metros. O período de testes deve durar três meses. “Na fase inicial, já fizemos algumas operações com base nesse monitoramento”, afirma o tenente-coronel Dario Cony, comandante do 19º BPM. Quando tudo estiver funcionando, um software poderá levantar a folha corrida de uma pessoa que apareça diante das câmeras, baseado apenas nos traços do rosto.

A expectativa é de que o projeto piloto vá mais longe que o extinto Olho Vivo, implantado no governo Garotinho (1999-2002). “Os equipamentos não eram tão modernos, e não havia uma rotina policial adequada à tecnologia. É isso que estamos criando”, explica André Cardoso, assessor de tecnologia da Secretaria de Segurança. “A iniciativa é boa e esperamos que saia do papel”, observa Wanderley Ribeiro, presidente da Associação de Cabos e Soldados da PM. “Também é preciso lembrar que, além de tecnologia, é necessário investir no policial, com boa remuneração e treinamento”, acrescenta. Várias câmeras móveis foram instaladas, principalmente na orla – o número exato não é divulgado pela secretaria. As imagens são acompanhadas durante 24 horas em uma sala com telões e quatro computadores. Um operador de rádio pode acionar o carro policial mais próximo de uma ocorrência olhando um mapa no qual a localização das viaturas aparece em tempo real. O acompanhamento das imagens é feito por policiais baleados em serviço e transferidos à reserva por problemas físicos. “Eles recuperam a auto-estima e nós nos beneficiamos de sua experiência policial de identificar situações suspeitas”, avalia Cardoso. Todo o equipamento é custeado pela iniciativa privada e administrado pela fundação Assegura, de policiais vitimados pela violência.

Rosto na multidão – O sistema permitirá detectar movimentos em pontos previamente escolhidos. “O policial pode programar a câmera para dar um close numa determinada porta se alguém sair dali”, exemplifica Cardoso. “Numa via expressa, podemos definir que a câmera dê um close toda vez que alguém passar andando no seu campo de visão.” Mas o principal avanço será a identificação de um rosto na multidão, pela medição da distância entre os olhos, nariz e boca. A partir de então, deve ser possível pesquisar em um banco de dados se a pessoa tem antecedentes criminais. O plano prevê integrar o procedimento policial às possibilidades tecnológicas para evitar que o investimento seja subutilizado.

Copacabana foi escolhida para a inovação pela concentração de turistas, por sua pequena extensão, alta densidade demográfica e mistura de classes sociais. O comandante do 19º BPM acredita que, apesar de estar em período de testes, o projeto já está rendendo frutos. “Só o anúncio das câmeras já inibiu os marginais”, afirma. Entre o incômodo de estar sendo observado o tempo todo por olhos de big brother e a sensação
de segurança, os moradores aprovam a inovação. “Me sinto mais segura. Saber que tem câmeras da polícia pelas ruas me tranquiliza”, diz a estilista Adiléia Cordeiro, 57 anos. Há moradores que creditam o aumento da sensação de segurança ao início da operação Zona Sul Legal. “Desde que a operação começou, há dois meses, houve uma melhora. Vejo
mais policiais na rua”, constata a digitadora Paulina Mechasqui,
29 anos, que trabalha em Copacabana.

 

Novo clima

Operação Asfixia, montada pelo governo do Rio de Janeiro para encurralar os traficantes em seus pontos-de-venda, começou a
dar resultados. Pelo menos na sensação de segurança. Uma enquete feita pela faculdade Unicarioca, a pedido do jornal Extra, com 640 moradores de seis bairros da capital mostra que, para 52,1%, a violência diminuiu em seis meses. Para 70,8%, há mais policiais nas ruas. A operação aumentou em 20% o número de PMs em ação, com 3.600 homens a mais, e um método para sufocar a corrupção: “Um batalhão fiscaliza a área de outro. A cada 30 dias, nós trocamos”, explica o secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho. Ele comemorou uma nota publicada no jornal O Dia sobre um “plano de demissão voluntária” adotado na favela da Rocinha pelo traficante Luciano Barbosa Silva, o Lulu. Segundo a nota, Lulu deu R$ 500 e
um revólver a cada um de seus “soldados”, dispensando-os. “Com a polícia no pé do morro, os compradores não sobem”, disse Garotinho, calculando em R$ 1,5 milhão por semana o prejuízo do tráfico na
maior favela do Rio. A Operação Asfixia recebeu a aprovação de
79,2% dos entrevistados da Unicarioca.

Hélio Contreiras