Em claro oportunismo político, senadores, se aproveitando da comoção nacional com a tragédia de Realengo, passaram a defender um novo referendo sobre o desarmamento. Querem convocar mais uma consulta para que o povo vote um tema sobre o qual já deu seu veredicto. O casuísmo é evidente e a ideia de usar os holofotes para capitalizar a seu favor o sentimento de indignação que grassa neste momento não passa de um recurso populista barato e lamentável. Demagogia não resolve o problema maior da segurança no País. É demasiadamente simplista imaginar uma relação de causa e efeito direta entre a morte covarde e inaceitável daquelas 12 crianças e o comércio formal de armas. O psicopata que irrompeu naquela escola estava de posse de revólveres comprados no mercado paralelo – até porque ele tentou adquiri-los pelo caminho legal e não conseguiu. O País não estará livre de episódios traumáticos como esse pela via da proibição pura e simples do porte. Há questões de fundo – e muito mais efi cazes – como a fi scalização do comércio ilegal, o controle de fronteiras e a coibição do banditismo em voga nos diversos Estados da Federação e que impera como uma espécie de poder paralelo a assombrar a sociedade. O Brasil já tem um Estatuto do Desarmamento que pode ser classifi cado entre os mais rígidos existentes no mundo. Se aplicada ao pé da letra, a lei brasileira, com seus inúmeros artigos a disciplinar o assunto, já conseguiria evitar a banalização do porte. Hoje qualquer um consegue comprar uma arma devido ao tratamento frouxo que é dado às regras em vigor. Por omissão, conivência ou descaso, muitas autoridades fecham os olhos a uma realidade que pode ser encontrada em cada esquina, em cada cidade. E é nesse caldeirão de inércia e resignação que alguns políticos se aproveitam. Tendem a achar que ganham o voto do cidadão com lances midiáticos sem consequência prática. A pregação pelo desarmamento tem de estar sempre presente através de campanhas esclarecedoras da população – como a que o governo deve dar início nos próximos dias –, mas evitando o blá-blá-blá eleitoreiro de parlamentares. Esses senhores deveriam estar se ocupando do que ainda não foi decidido, de projetos vitais que esperam anos na gaveta por falta de espaço na agenda deles – legisladores que falam mais do que resolvem.


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