Ao lado de Christopher Walken, o ator americano James Spader guarda o olhar
mais estranho das telas. É difícil dizer pela expressão dos dois se os personagens que representam são um intelectual ou um frio assassino, o que os torna ideais para viver psicopatas de todos os tipos. Em Secretária (Secretary, Estados Unidos, 2002) – cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro –, Spader
é o advogado E. Edward Grey, que contrata como secretária a suave Lee Holloway (Maggie Gyllenhaal). Metódico, exigente
e dissimulado, dr. Grey logo descobre que sob toda aquela mansidão se esconde uma garota que se automutila e passa a tirar proveito de seus atos bizarros até as últimas consequências. Lembra muito sexo, mentiras e videotape, de Steven Soderbergh, que já trazia Spader como voyeur.

Mas enquanto Soderbergh flagra a mistura de obsessão e impotência
que mina as relações adultas, a fita do diretor Steven Shainberg – vencedora do Festival do Filme de Sundance – trata da adequação
de patologias, algo inerente a qualquer relação. Lee se queima e se
corta porque não suporta o alcoolismo do pai, o alheamento da mãe
e a estupidez do namorado, Peter, vivido por Jeremy Davies, outro especialista em personagens esquisitos. Para ela, Mr. Grey é o príncipe encantado. E, para ele, Lee é o Chapeuzinho Vermelho. Cheio de pequenas perversidades, no fundo Secretária é uma comédia romântica. Com a diferença que, em vez de tomar sorvete e passear pelo Central Park, os personagens rastejam de quatro e usam algemas.