Um outro clã se esconde por trás das três gerações de judeus nova-iorquinos Gromberg, sobre
as quais voltam-se as lentes de Acontece nas melhores famílias
(It runs in the family, Estados Unidos, 2003), em cartaz em São Paulo. No papel do patriarca Mitchell desponta o gigante Kirk Douglas, 86 anos, 75 filmes e nenhum Oscar, recém-saído de um derrame cerebral que o obrigou a reaprender a falar. Junto com ele está o filho Michael – na pele do advogado mulherengo Alex –, pai do estreante Cameron, convincente ao dar vida ao adrenalinado Asher, um DJ que se veste e se porta como os negros do Harlem. No centro da foto de cabeceira, Diana Douglas, primeira mulher de Kirk, ocupa lugar parecido ao da vida real, o que faz da comédia dramática de Fred Schepisi um tributo simpático, apesar de às vezes apelar para os clichês.

Embora não tenha sido escrito pensando nos Douglas, o enredo – que mostra os problemas de comunicação entre uma família de classe média alta – tem inúmeras conexões com a biografia dos protagonistas. Uma delas é a origem judaica de Kirk, descendente de imigrantes russos dos quais ganhou o nome verdadeiro de Issur Danielovitch Demsky. Da mesma forma, é impossível não ver como piada interna cenas como a de Michael, compulsivo sexual confesso, não se contendo diante das insinuações de uma auxiliar. Tais detalhes, inevitavelmente, ganham primeiro plano, desviando o eixo da trama, que entrelaça bem o universo particular da velhice, maturidade, juventude e pré-adolescência. Na falta de uma criança para completar o elenco, Eli, o caçula dos Gromberg, é vivido por Rory Culkin, irmão de Macaulay, de Esqueceram de mim.