O domingo do grupo americano Grandaddy tem dezenas de cisnes num lago de azul kandinskiano, com geladíssimas montanhas ao fundo e um galho tímido de uma árvore acordando com a primavera. A paisagem é capa de Sunday, terceiro álbum da banda, e não poderia ser melhor interpretação visual para o som de uma rapaziada que vem engordando o time dos revitalizadores do rock. Grandaddy brota daqueles ciclos naturais da arte e da vida, nos quais os anos 1990 mergulharam. Se no princípio a música eletrônica – a rainha da década passada – sustentava-se apenas pelo casamento com o ecstasy, aos poucos a ausência de criatividade e a frieza foram dando lugar a curiosos nichos musicais que transformaram o simplérrimo bate-estaca das pistas em algo mais consistente e influente. Nesta digestão antropofágica encontram-se bandas como Radiohead, Coldplay, Black Box Recorder e, claro, a californiana Grandaddy, cujo vocalista Jason Lytle se mostra um verdadeiro líder, compondo e produzindo para os outros quatro integrantes deslancharem seus talentos musicais.

Sunday é a mistura perfeita de elementos orgânicos com a máquina. Ou seja, melodiosos violões andando em pacífica parceria com sintetizadores. Não é um som dançante, nem mesmo alegre. Por mais contraditório, é futurista e nostálgico, porém de maciez única. Ouvir Grandaddy é como estar diante daquela paisagem fria e bela da capa do disco. I’m on standby carrega no som uma tristeza masoquista, tão bela e tão doída na cadência acústica das cordas acompanhadas de filetes de teclados. The group who couldn’t say, não fosse a bateria, seria uma sinfonia totalmente eletrônica, uma eletrônica, como se disse, digerida pela sensibilidade. El caminos in the west guarda uma alegria jovial que só os grandes grupos dos anos 1960 tinham. São apenas três exemplos de uma banda de arquitetura musical, que já pode se colocar entre as melhores já surgidas nos últimos tempos.