Alice Miceli/ Galeria Nara Roesler/ até 30/4

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RADIAÇÃO
Raios gama que contaminam campos de Chernobyl, em fotografia de Alice Miceli

Um mês após um terremoto seguido de tsunami devastar o nordeste do Japão e detonar uma crise nuclear no país, o governo japonês ainda não conseguiu emitir informações precisas a respeito da contaminação causada pelos vazamentos de radiatividade da usina de Fukushima. Além de preocupar pescadores, agricultores e criadores de gado situados fora da área de exclusão de 30 quilômetros da usina, os níveis de radiação acumulada estão sendo medidos nas escolas e nos portos por onde são exportados os produtos locais. A julgar pelos acontecimentos, o mundo levará um bom tempo até visualizar a extensão do problema. Isso nos transporta para 25 anos atrás, quando as autoridades soviéticas procuraram esconder o acidente nuclear de Chernobyl da comunidade internacional, até que a nuvem radiativa atingiu a Europa Oriental e o Reino Unido. A real dimensão que a tragédia de Chernobyl virá a atingir é até hoje desconhecida, já que não há uma estimativa precisa de quantas pessoas ainda morrerão de doenças causadas pelo acidente. Foi nesse campo de incertezas que a artista brasileira Alice Miceli penetrou para realizar seu “Projeto Chernobyl”, entre 2007 e 2010.

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Em um momento em que se atenta para a impossibilidade de visualizar a magnitude de um acidente nuclear, o trabalho de Alice ganha uma dimensão quase monumental. Em janeiro de 2007 ela embarcou numa pesquisa dentro do laboratório do Instituto de Radioproteção e Dosimetria do Rio de Janeiro com um objetivo preciso: tornar a radiação visível. Para isso, construiu câmeras especiais, que seriam logo instaladas em pontos diversos da zona de exclusão. Após meses de exposição à radiação, os negativos revelaram os níveis de radiação até hoje iminentes em campos e casas da região abandonada na Bielorrússia. Essas chapas em grande formato foram expostas na 29ª Bienal de São Paulo, no final do ano passado, e geraram ampliações que hoje estão expostas na primeira individual da artista em São Paulo, na galeria Nara Roesler. Cada chapa, um documento. Quase um monumento que serve como denúncia ao descuido dos sistemas políticos e sua ineficiência em visualizar o perigo e aprimorar a prontidão em situações de emergência.